COMO GARANTIR QUALIDADE DE VIDA A PACIENTES COM DOENÇAS CRÔNICAS?

Com o envelhecimento progressivo da população brasileira e maior incidência de quadros agravantes de saúde, o Cuidado Paliativo (CP), fundamental na prática clínica, mostra-se cada vez mais essencial, para garantir ao máximo o bem-estar desses indivíduos


Sem dúvidas, a ciência médica passou por grandes progressos por meio de pesquisas e tecnologia, que permitem a sobrevida cada vez maior de pacientes com doenças crônicas e limitantes, como , por exemplo, câncer sem possibilidade de cura, Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e Alzheimer. Porém, nem sempre sobreviver a uma enfermidade é sinônimo de qualidade de vida e o Cuidado Paliativo (CP), que é a arte de cuidar aliado ao conhecimento científico para o alívio do sofrimento, se faz necessário, para garantir o bem-estar desses indivíduos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 20 milhões de pessoas precisem dessa assistência todos os anos. 

O envelhecimento progressivo da população brasileira contribui para a necessidade de investir na evolução desta prática clínica fundamental que é o CP, em paralelo a terapias de cura e prolongamento da vida. Um estudo realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) com um recorte sobre Curitiba (PR), com seus quase 2 milhões de habitantes, estima que até 2022 a cidade terá mais moradores acima de 60 anos de idade (332,6 mil) do que menores de 14 anos (330,8 mil). 

A projeção aponta ainda que a capital paranaense deverá chegar em 2040 com cerca de 28% da população com idade mais avançada, o equivalente a mais de meio milhão de pessoas, enquanto os mais novos representarão 13% do total. "Mesmo aqueles profissionais da saúde que não atuam diretamente com cuidados paliativos terão que, indiretamente, ter uma noção do que significa isso e quais pacientes se enquadram nesse modelo de cuidado”, afirma o coordenador da pós-graduação em Cuidados Paliativos Multiprofissional e Medicina Paliativa da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Homero Luis de Aquino Palma. 

O CP, explica Palma, envolve o auxílio a pacientes que tenham doenças incuráveis e que, progressivamente, os levarão a óbito. “A ideia é que os profissionais se tornem capacitados e que, ao invés de focarem em diagnósticos e curativos, invistam em cuidados aos pacientes, para garantir-lhes o bem-estar. A demanda por esses profissionais será cada vez maior.” Os pacientes não precisam ter necessariamente diagnósticos de doenças terminais, diz ele. “Podem ter uma doença incurável, que pode ser progressiva, como o alzheimer, por exemplo. Em um quadro leve, ele ainda tem muito tempo de vida, mas já se enquadra em critérios de cuidados paliativos.” 

Um dos objetivos mais importantes é que o paciente seja atendido em todos os seus âmbitos: físico, social, espiritual e psíquico, de forma que tenha a saúde equilibrada sobre esses quatro pilares. É muito comum um paciente, quando tem uma doença mais grave, conta Palma, se questionar espiritualmente qual seu papel na vida. “Esses conflitos podem ser organizados com a ajuda de um assistente espiritual. Nesse contexto pode estar sentindo dores e ter outros sintomas que podem estar sendo negativos para sua vida e aí um médico especializado poderá ajudar a sanar esses sintomas com medicação.” E, dessa maneira, cada um dos profissionais, como fisioterapeuta, enfermeiro ou dentista, pode atuar em conjunto. 

Investir em CP proporciona benefícios a todos os envolvidos. A pacientes e familiares observa-se, segundo Palma, desde a diminuição dos períodos de internação, uso exagerado de medicações e solicitação de exames desnecessários, com potencial de malefícios aos pacientes em muitos casos, até o bem-estar físico, social, psíquico e espiritual. Em relação aos profissionais, aqueles que têm formação específica em CP, que trabalham em equipes multidisciplinares e têm estrutura [medicamentos e insumos], mostram-se satisfeitos com o trabalho. “Eles sentem que podem ajudar o paciente de diversas formas, contribuindo muito para seu bem-estar", constata.


Princípios dos cuidados paliativos


A OMS publicou em 1986 (e revisou em 2002) princípios que regem a atuação da equipe multidisciplinar de CP. São eles:

· promover o alívio da dor e de outros sintomas desagradáveis.

· afirmar a vida e considerar e considerar a morte um processo normal da vida.

· não acelerar nem adiar a morte.

· Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente.

· oferecer sistema de suporte que possibilite ao paciente viver tão ativamente quanto possível até o momento de sua morte.

· oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente e do luto.

· oferecer abordagem multiprofissional para focar as necessidades dos pacientes e seus familiares, inlcuindo acompanhamento no luto.

· melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença.

· iniciar o mais precocemente possível o cuidado paliativo, juntamente com outras medidas de prolongamento de vida, como quimioterapia e radioterapia, e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações clínicas estressantes .

Formação acadêmica com metodologias ativas e dupla diplomação

A PUCPR oferece a pós-graduação em Cuidados Paliativos Multiprofissional e Medicina Paliativa no câmpus de Curitiba. Com aulas quinzenais, o curso tem duração de até 21 meses. A especialização é destinada a profissionais graduados na área da saúde, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais, dentistas, psicólogos e nutricionistas. 

A formação envolve metodologias ativas de ensino ao invés de aulas tradicionais. Sob o ponto de vista didático, a PUCPR abre mão das aulas expositivas e investe em uma interação maior com os alunos por meio de casos clínicos. “Tudo isso para um estudo mais leve e agradável, além de fixado de forma mais efetiva, seja em sala de aula ou no centro de simulação da PUCPR”, destaca o coordenador.

O curso tem ainda a vantagem de proporcionar uma dupla diplomação, por meio de convênio com a Universidade de Sevilha, na Espanha. O módulo internacional acontece concomitantemente ao curso regular, com uma parte realizada presencialmente na cidade de Sevilha. A instituição não exige certificação de proficiência na língua espanhola.

Imagem: http://dssbr.org/site

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