. . . aposentada recifense revela histórias de 50 anos de trabalho invisível.
A empregada doméstica recifense aposentada, Vera Lúcia da Silva lança seu primeiro livro, " Espanador não tira poeira” — um relato poderoso de histórias de 50 anos de trabalho invisível, lutas e resiliências. O livro está em pré-venda.
Foto: Salatiel Cícero
Vera Lúcia da Silva: 50 anos dedicados ao trabalho doméstico, marcados por desafios e superações, se transforma em livro.
Por Vald Ribeiro
Vera Lúcia da Silva, uma mulher negra e moradora na periferia do Recife, está prestes a completar 62 anos e lançar seu primeiro livro, Espanador não tira poeira: memórias e aprendizados de uma empregada doméstica. A obra, publicada pelo Selo Mirada, é um relato emocionante sobre sua vida, marcada por desafios e superações, e um importante convite à reflexão sobre a dignidade e o respeito no trabalho doméstico.
Nascida no Engenho Palma, em Sirinhaém — situada na Zona da Mata Sul, a 75 km do Recife — Vera começou a trabalhar como empregada doméstica aos 12 anos. Dois anos depois, mudou-se para a capital pernambucana, levando consigo o peso da exploração e a precariedade do trabalho doméstico. Humilhações, falta de direitos, acusações injustas e preconceito marcaram sua trajetória. Situações de violência simbólica, como ser forçada a comer sobras de comida estragada ou ser impedida de usar os banheiros da casa em que trabalhava, são alguns dos relatos presentes no livro.
Mãe solo de três filhas, Vera dedicou-se em sua jornada a proporcionar um futuro melhor para elas. Uma das filhas é doutora em Medicina Veterinária, outra é formada em Química e a caçula é técnica de enfermagem. “Sempre disse a elas: ‘Meu trabalho é digno, mas vocês precisam estudar para não passarem pelas dificuldades que eu enfrentei”, relembra com emoção.
Nos anos 90, Vera trabalhou na Biblioteca do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi nesse ambiente que conheceu a professora Silke Weber, que a convidou para limpar sua sala. Ali, seus caminhos se cruzaram com Wedna Galindo, docente do Departamento de Psicologia da UFPE, que se tornaria sua parceira e coautora no projeto do livro.
A sensibilidade de Wedna foi fundamental para que Vera transformasse suas memórias em um relato poderoso e reflexivo. “A cada conversa, percebia que, mesmo sem ser plenamente consciente, Vera estava refletindo criticamente sobre sua própria trajetória e as condições de trabalho que vivenciava”, explicou Wedna. “A produção do livro foi uma proposta que surgiu dela mesma. O meu papel foi sempre o de respeitar o desejo de Vera. Eu enxerguei naquele desejo uma grande potência, um potencial transformador, que, se bem conduzido, poderia ganhar vida própria”, concluiu a coautora.
Com 96 páginas, Espanador não tira poeira: dividida em cinco partes, que abordam desde a infância da autora até reflexões sobre dignidade e respeito no trabalho doméstico. O título do livro foi inspirado na primeira experiência de trabalho de Vera, quando foi injustamente acusada de não limpar os móveis, sem saber que o espanador apenas espalhava a poeira. “Esse título é mais que uma lembrança, é uma metáfora para como sempre fomos tratadas: invisíveis e desvalorizadas”, reflete a autora.
A história de Vera é um exemplo de lutas, sonhos, superação. Sua voz, que por tanto tempo foi silenciada, agora ecoa em um livro que promete inspirar outras mulheres a lutarem por seus sonhos.
Em pré-venda, o livro pode ser adquirido por 55,00 via Pix pelo endereço: espanador2024@gmail.com. No próximo dia 14, haverá o lançamento oficial no Recife na Livraria do Jardim, às 18 horas.
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