QUANDO A INTOLERÂNCIA POLÍTICA VEM EMBUTIDA NA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

O que temos hoje são líderes religiosos que de forma sutil pregam a intolerância ao afirmar que apenas a sua crença é verdadeira e levam a salvação e as demais são erradas, demoníacas e que levarão a condenação eterna.



Ediel Rangel*, Pragmatismo Político

Recentemente vi um vídeo no Facebook onde um pastor evangélico (não sei se ele é cubano, mas a sua igreja fica em Cuba) afirma que a sua esposa foi presa pelo governo dos irmãos Castro e a sua igreja foi demolida [1]. Se tal fato ocorreu, seja a mando do governo cubano ou não, é algo de se abominar, além de tudo devemos ter respeito por nosso próximo.

A questão é: Não precisamos todos gostar da mesma coisa, mas devemos respeitar aqueles que pensam diferente.

Mas o que quero destacar é o fato do destaque ser o governo cubano, um governo comunista. Isso reacende todo aquele mito do comunismo que irá intervir até nas crenças religiosas do povo, privando ao máximo a sua liberdade. Também me lembra daquela velha história de que os comunistas “comem” criancinhas.

Ora, se o governo Castro tivesse visto a liberdade religiosa como algo ameaçador ao seu governo a mesma seria “podada” quando tomaram o poder nos anos 1950, no entanto o que temos em Cuba é uma grande diversidade religiosa. Mas sabemos que a grande maioria dos cubanos são católicos, há também protestantes, espíritas, judeus, muçulmanos e a Santeria (que seria como o candomblé aqui no Brasil) [2], sem falar da grande quantidade de lojas maçônicas na ilha caribenha.


Pesquisando sobre o tema dos evangélicos em Cuba, me deparei com alguns sites com matérias do tipo “Como é ser um cristão em Cuba? [3]”, “Pastor batista é preso em Cuba [4]” (ambos com entrevista do mesmo pastor) e muitos outros. Em uma das declarações, esse mesmo pastor disse que há hoje o dobro de igrejas em Cuba do que há 30 anos. Ora, cadê o empenho do governo em acabar com as igrejas?

Mas vou para outro foco, o que eu pretendo de fato com este texto, e quero partir da mesma pergunta acima: Como é ser um cristão em Cuba?

Quero refazer um pouco essa pergunta, mudando apenas duas palavras:

– Como é ser um(a) MUÇULMANO no BRASIL?

– Como é ser um(a) ESPÍRITA no BRASIL?

– Como é ser um(a) CANDOMBLECISTA no BRASIL?

– Como é ser um(a) ATEU no BRASIL?

– Como é ser um(a) BUDISTA no BRASIL?

– Como é ser um(a) JUDAÍSTA no BRASIL?

Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho de teu irmão. (Mateus 7:5)

No Brasil, 86% se declaram cristãos. Destes 64,6% são católicos e 22,2% são evangélicos [5] [6]. O interessante é que mesmo sendo evangélicos e católicos cristãos, ambos não se combinam. O que vemos aqui no Brasil é católicos contra evangélicos, evangélicos contra católicos e todos contra as outras minorias.

Bem me lembro, na minha infância (evangélica), que era forte a briga de evangélicos e católicos. Quem nunca ouviu “Crente do c* quente”? Ora, isso era normal, os evangélicos eram a minoria e, no entanto, eram os oprimidos e perseguidos. Hoje a realidade é outra, digamos que o “jogo virou”.

Lembro também de evangélicos afirmando aos gritos que iriam para o céu enquanto católicos iriam para o inferno. Acirrando assim ainda mais a disputa de qual religião é a certa e qual é a errada.

A falta de respeito também já foi televisionada quando um pastor da Igreja Universal chutou a imagem de uma santa católica (1995) e símbolo religioso nacional [7]. 20 anos depois fatos similares ainda continuam a acontecer no nosso país, como em 30/03/2015 na cidade de São Gonçalo do Amarante, região metropolitana de Natal (RN) [8]. Ou como outro caso em 16/07/2014 onde dois jovens evangélicos invadiram a igreja matriz da cidade mineira de Sacramento e destruíram oito imagens de santos, um dos rapazes alegou que não concorda com a idolatria às estátuas comuns na igreja católica [9].

Agora vemos também outras religiões sendo vítimas da intolerância religiosa, como o caso da menina candomblecista apedrejada quando saiam de um culto. Segundo relato da avó da criança, “O que chamou a atenção foi que eles começaram a levantar a Bíblia e a chamar todo mundo de ‘diabo’, ‘vai para o inferno’, ‘Jesus está voltando’” [10].

Os muçulmanos também estão na lista dos agredidos, como o fato ocorrido aqui no Brasil após os atentados ao jornal Frances Charlie Hebdo. Muçulmanos passaram a ser agredidos fisicamente e moralmente. Como o caso ocorrido em Minas Gerais, onde uma muçulmana foi cuspida por uma pessoa enquanto brincava com o filho de seis anos no clube da sua cidade. “Assassina! Ninguém quer você aqui”, gritou o agressor [11].

Há o caso do espírita que foi agredido em frente a suas filhas por evangélicos. O espírita por reclamar de barulho de culto ao síndico do prédio [12].

O que temos hoje são líderes religiosos que de forma sutil pregam a intolerância ao afirmar que apenas a sua crença é verdadeira e levam a salvação e as demais são erradas, demoníacas e que levarão a condenação eterna. Pastores que usam as redes sociais para pregar o ódio e esquecem a verdadeira mensagem de Cristo, o amor.

Então, antes de reclamar a perseguição de um governo, lembrem-se da própria perseguição praticada dentro das igrejas e que em nosso país livre e democrática há tanta perseguição religiosa quanto qualquer outra nação, seja pela mão do governo ou pelos algozes religiosos.

*Ediel Rangel é graduado em Sistemas de Informação pelo Instituto Doctum de Educação e Tecnologia, graduando em Ciências Contábeis pela UFVJM, mestrando em Tecnologia, Ambiente e Sociedade pela UFVJM, autor do Blog Ediel Rangel e colaborou para Pragmatismo Político.

Referências:












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