IGREJA UNIVERSAL É CONDENADA A INDENIZAR PORTADOR DE HIV QUE PAROU TRATAMENTO

Justiça condena Igreja Universal a indenizar portador de HIV em R$ 300 mil. Paciente foi induzido a interromper tratamento e a deixar de usar proteção nas relações sexuais com a esposa. Hoje ela também é portadora do vírus

(Imagem: Templo de Salomão, maior palco da Igreja Universal do Reino de Deus/SP)

por Jean Wyllys

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS) condenou a Igreja Universal do Reino de Deus a indenizar, em 300 mil reais, um portador de HIV/AIDS que foi induzido a interromper o tratamento para que fosse, então, curado pela fé. Além de interromper o tratamento, foi convencido a entregar valores e, pasmem, a deixar de usar qualquer forma de proteção ao fazer sexo com sua esposa como uma prova de sua fé. Hoje ela também é portadora do vírus!

A recusa do tratamento médico em prol da fé agravou muito seu estado de saúde. Exames médicos confirmam a rápida piora em seu quadro a partir de 2009, quando começou a frequentar os cultos. Nesta época, chegou a ficar 40 dias internado em coma induzido.

O charlatanismo travestido de fé é uma grave ameaça à saúde pública, e os órgãos públicos de saúde jamais se posicionam contra a ação destas pessoas. É preocupante perceber que o próprio Ministério da Saúde sequer tenha empreendido uma campanha de conscientização contra a oferta destes tipos de tratamento que exigem a interrupção do tratamento médico.

Recentemente vimos, também, o Legislativo tentando legalizar os tratamentos de reversão da homossexualidade empreendidos por grupos religiosos. Tratamentos que já provocaram grandes escândalos no exterior e que são diretamente responsáveis por vários suicídios e episódios de exploração sexual.

Há, também, comunidades terapêuticas ligadas às instituições religiosas que recebem, do Governo Federal, recursos destinados ao tratamento compulsório de usuários de drogas. Estas instituições não oferecem qualquer suporte à saúde mental, não são fiscalizadas e muito menos contam com acompanhamento médico, oferecendo um tipo de tratamento laboral que, muitas vezes, coloca pacientes em situação análoga à escravidão.

Ainda que estas instituições tenham total liberdade de oferecer tratamentos à base da fé, capitalizar financeiramente com o sofrimento alheio e impedir que uma pessoa busque tratamento médico não pode ser entendido como um ato de menor importância. Há pessoas morrendo à míngua por conta das promessas de cura inclusive em redes sociais! O Estado também precisa ser responsabilizado por não conscientizar estas pessoas sobre a importância de jamais abandonar os tratamentos médicos.

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