UMA METÁFORA BIOMIMÉTRICA




Na esteira do artigo da semana passada foi possível pontuar: nesses 3,8 bilhões de anos de evolução, os processos naturais testaram, por tentativa e erro, o que funciona e o que não funciona na preservação de uma espécie e de seu habitat.

Daí é imperativo destacar a importância de incorporarmos em nossa metodologia de criação e projeto de materiais e objetos as mesmas constatações.

Em outras palavras:

Nosso atual modelo de produção que valoriza essencialmente o capital em detrimento do trabalho e da natureza está completamente equivocado.

A nossa gestão da ciência e da tecnologia precisa urgentemente de uma revolução. O trabalho e a natureza não podem mais ficar no último plano de valorização em nossas escalas de prioridade.

E se realmente pretendermos, enquanto espécie, uma maior longevidade — essas mudanças drásticas precisam ocorrer urgentemente.

É justamente nesse viés, pelo qual o valor dado aos ganhos de capital supera — e em muito — aos ganhos sociais e ambientais, que a história humana vem, nesses últimos séculos, construindo um resultado quantitativo inquestionável: além de exaurir recursos naturais, depredar e poluir o ambiente, o somatório da riqueza de apenas 1% da população mundial está superando o somatório dos bens dos 99% restantes.

Evidentemente a política macroeconômica mundial é ditada por esses 1% com uma equação fácil de entender:

— cada vez mais para eles mesmos e cada vez menos para o resto do mundo.

Por essa razão esse modelo é definido simplesmente como predatório: ao mesmo tempo que está exaurindo o ambiente natural, está gerando pressões insustentáveis no ambiente social.

Não há solução a curto prazo que não passe necessariamente por essa constatação.

Enquanto o modelo for consumista, ditado simplesmente pelas necessidades do mercado — que joga com cartas marcadas — essas e outras contradições não serão resolvidas.

Para apoiar essa avaliação, quero aproveitar o tema — biomimética — e propor uma analogia.

Imagine um organismo que possua em sua constituição células ricas e pobres.

As células ricas recebem muito mais sangue do que precisam para se manterem vivas e por necessidades ainda não muito compreendidas represam e armazenam esse sangue, que representa, nessa metáfora, a riqueza desse organismo.

Evidentemente, por conta disso, as células pobres estão recebendo pouco ou nenhum sangue.

Ora, valendo-se dos conceitos da biologia fica fácil entender que o conjunto de células ricas, ao represar e acumular o sangue estão gerando um tumor enquanto que as células pobres que estão morrendo sem alimento e oxigênio caracterizam a necrose do órgão que constituem.

Um organismo com esses sintomas — infelizmente — não possui muito tempo de vida.

Simples assim.

Autor: Mustafá Ali Kanso

é escritor, professor, engenheiro químico, empresário da mídia educacional e divulgador científico em programas culturais da TV.

HypeScience

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