Viva a barbárie

“Conformistae reacionário, o filme “Dois Coelhos” defende a justiça com as próprias mãoscomo solução para os problemas sociais.
 “Edgar encontra-se na mesma situação que a maioriados brasileiros: espremido entre a criminalidade, que age impunemente, e amaioria do poder público, que só age com o auxílio da corrupção.”Esta é a sinopse oficial fornecida pelos produtores do filme, e repetida àexaustão na maioria das críticas publicadas sobre Dois Coelhos.
Como apremissa parece inquestionável (quem não está indignado com a corrupção hoje emdia?), todos ignoraram o aspecto político se ativeram à estética chocante dofilme, com explosões, tiros, acelerações, animação e todos os elementos dosonho de uma Hollywood brasileira. Mas além desta estética pop (voltaremossobre isso mais tarde), a grande surpresa está mesmo na construção alienada do“brasileiro típico”, na mensagem reacionária, em outras palavras, na ideologiaperversa desta produção.
Bruno Carmelo, Discurso-Imagem/ Outras Palavras
                    'Não  existe  bandido bom”: o conformismo

Edgar(Fernando Alves Pinto), o herói, é também o narrador da história. Ele nosapresenta cada personagem à sua maneira, conduz a narrativa por onde quer(“sobre esse personagem, eu vou falar mais tarde”, ele censura), e apresentaassim o único ponto de vista do filme, a única análise fornecida ao espectador.
Poiseste porta-voz da história é um garoto rico, filho de um proprietário derestaurantes, que não trabalha por comodismo. Ele assassinou uma mulher e seufilho num acidente de carro, por imprudência sua, mas não mostra remorso. Pelocontrário, ele felicita os pequenos arranjos da justiça que lhe permitiramescapar da prisão e passar “férias” em Miami até as coisas se acalmarem.

Edgar odeia políticos, porque lhe parecemtodos corruptos. Quando é assaltado, ele mostra que também não é possíveldesculpar bandidos: “E lá existe bandido bom?”, ele pergunta. Assim, políticosnão seriam nada mais do que ladrões com dinheiro, de modo que o protagonistaparece detestar qualquer pessoa que detenha o poder, legalmente ou não – atéporque ele, como descobriremos depois, sonha igualmente com uma manobra de umpoder imenso. A análise social deste personagem é fruto de inveja: ele odeialadrões e políticos porque conseguem fazer o que querem, enquanto ele, rico,não tem poder de ação”

GAZETA SANTA CÂNDIDA,JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

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