Quatro meses de angústia

Mullher do engenheiro Renato Brandão, desaparecido há quatro meses, mantém esperança de que ele seja encontrado com vida.



Simulações feitas pela inteligência policial projetam como estaria o engenheiro Renato Moreira Brandão após três meses de sumiço.

Míriam Weiss Brandão, esposa de Renato. Foto: T.T.

Depois de quatro longos meses de angústia, a esposa do engenheiro curitibano Renato Brandão, de 54 anos – desaparecido desde o dia 13 de setembro de 2011, após sair de casa com uma bicicleta Caloi 10 para passear -, mantém a esperança de que ele seja encontrado com vida. “Já chorei demais; Já me descabelei demais. Não posso me entregar e desabar porque senão todo mundo desaba em volta. Meus sogros precisam que eu seja forte; meus pais e minha filha também”, diz Míriam Weiss Brandão, de 44 anos. Ela sabe que todo o esforço precisa ser direcionado à campanha de divulgação do retrato do marido e das informações pessoais, para que o caso não caia no esquecimento. A imprensa, que tem colaborado bastante com a campanha desde o início, possui uma fome voraz de novidades e o passar do tempo não só aumenta o drama familiar, quanto esfria os ânimos das pessoas menos próximas. O pior que pode acontecer em uma situação assim é o caso cair na vala comum das “fatalidades”. Tanto para a divulgação quanto para o avanço nas investigações.

Por isso é que, enquanto milhões de pessoas brindavam a chegada do ano novo e teciam planos para o futuro junto com promessas de renovação e de mudanças, duas pessoas presas no passado, que ligaram uma espécie de piloto automático lá no dia 13 de setembro de 2011, quando se constatou o desaparecimento do engenheiro Renato Brandão, só perceberam que 2012 chegava pelos fogos de artifícios que explodiam na vizinhança. A esposa de Renato e a filha Thaís, de 14 anos, viraram o ano no Facebook, espalhando nas redes sociais uma única mensagem, que, no fundo, no fundo, queria dizer: “por favor, nos ajude a encontrá-lo”!



Míriam mostra alguns pertences (acessórios) que foram encontrados pelo DER junto à bicicleta de Renato na Estrada da Graciosa dez dias após o desaparecimento do engenheiro. Foto: T.T.

Corrente arrebentada da bicicleta. Foto: T.T.

Desde o desaparecimento também a família conta com o esforço, a inteligência e a disposição dos policiais que atuam no caso, seja nas delegacias envolvidas nas buscas, seja no IML – Instituto Médico Legal – de Curitiba, mas tudo isso esbarra na estrutura que esses profissionais da investigação têm para trabalhar. Sete dias após o desaparecimento do engenheiro, a polícia teve acesso às imagens de câmeras de segurança dos prédios e estabelecimentos comerciais próximos à residência do casal e pode constatar que ele saiu de bicicleta. Mas só se conseguiu obter imagens para acompanhar o trajeto do engenheiro até poucas quadras de distância do prédio no bairro Ahú. Dali para a frente, restou o mistério. Os familiares gastam os olhos revendo as imagens na esperança de, assim como na reprise de filmes, conseguirem enxergar um detalhe que tenha passado desapercebido nas outras vezes. Dez dias depois do sumiço, o DER – Departamento de Estradas de Rodagem – recolheu na Estrada da Graciosa a bicicleta antiga (de 1974) com a corrente arrebentada, a mesma que Renato Brandão saiu de casa.


Renato Brandão, em foto tirada na casa dos pais, que fica no bairro das Mercês. A família do engenheiro é reconhecida especialmente pelos inúmeros talentos musicais. O pai dele, o médico Hélio Brandão, natural de Aquidauana (MS), foi um dos fundadores da Orquestra Juvenil da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Dr. Hélio também foi professor de Medicina da UFPR.

A música, embora presente nas veias e nas raízes de Renato Brandão, é um hobby, que divide espaço no seu escritório com os equipamentos eletrônicos e com antiguidades. A montagem e desmontagem de objetos de forma autodidata lhe rendeu o apelido de Professor Pardal. Foto: T.T.Ainda na quarta-feira, dia 4 de janeiro, Míriam recebeu um telefonema da delegacia de polícia de Bocaiúva do Sul, dizendo que havia sido encontrada uma ossada ao lado de óculos e bota de montanhismo. Esses objetos não se encaixavam nas informações sobre o desaparecimento de Renato, mas foram cinco dias de agonia até que fosse expedido um laudo do IML, na segunda-feira (9), dando conta de que não se tratava mesmo do engenheiro desaparecido. O episódio mostrou à família que as buscas continuam e que o desaparecimento do engenheiro persiste na ordem do dia dos policiais paranaenses. Nos demais estados, o reforço à campanha é quase que feito exclusivamente pelas redes sociais. Uma sobrinha de Brandão aproveitou a ida recentemente a São Paulo para fazer um curso e passou duas semanas percorrendo delegacias, hospitais e o IML paulistano em busca de notícias. Em Santa Catarina, cartazes e informações são postados em sites para manter viva a lembrança de que Renato está desaparecido. Mesmo que os investigadores respondam à Míriam de forma evasiva que “estão trabalhando em uma linha de investigação diferente” e nada mais além disso, ela tem a certeza de que o empenho da parte deles existe. Amigos e vizinhos, por sua vez, também assumiram como missão o bem-estar da esposa e da filha do engenheiro e estão sempre preocupados com sua segurança e com o estado de espírito das duas.



O casal Brandão: 25 anos de convivência, 19 de casamento. Foto do arquivo da família.

MEU CARRO É VERMELHO... Carros antigos, outra paixão. O Galaxie de 1961, modelo americano "rabo de peixe", levava Renato a participar de um grupo de amigos que se reúne nas quintas-feiras e que, agora, também soma esforços na busca ao engenheiro. Foi o próprio Renato quem projetou a capota desse carro. Foto de arquivo.

    Em cada pedacinho, lembranças e mais lembranças



Local de trabalho do engenheiro.

Foi no escritório que Míriam e Thaís passaram a virada do ano, postando mensagens nas redes sociais e divulgando imagens e informações de Renato para um número maior de pessoas. (T.T).Todos os cantos do apartamento da rua Colombo, no bairro Ahú, local de residência do casal e da filha Thaís, são decorados com lembranças, reunidas ao longo de 25 anos de convivência e 19 de casamento. Os momentos de uma família curitibana “da gema” preenchem todos os seus espaços. É possível notar pelas fotos nos porta-retratos, pelos bibelôs, ímãs de geladeira e, até mesmo, pelos equipamentos do escritório de trabalho do engenheiro ou nas evidências que vêm do conhecimento acerca dos seus hobbies, que este quadro familiar todo é composto de valores humanos importantes demais para simplesmente serem deixados para trás. Há muita vida em torno do ambiente que ficou em stand by desde a quebra da rotina no dia 13 de setembro. Apesar dessa angústia de quatro longos meses, Míriam recebe a imprensa e curiosos com um simpático sorriso de esperança e não se importa em responder às perguntas sobre inúmeras versões do caso. “Conversar e esclarecer as dúvidas que as pessoas tenham é parte desse trabalho de levar mais além a campanha e as buscas”, diz ela. É uma esperança depositada e repartida com cada um que vier a se somar nessa corrente de divulgação do caso, da foto e das informações sobre Renato Brandão ou que simplesmente passe a ser mais um a saber do drama da família e a se sensibilizar. Quem sabe, um dia, uma entre essas milhares de pessoas que têm o rosto do marido de Míriam gravados na memória ou que minimamente tenham presente a lembrança do caso não será justamente aquela tão fundamental para a elucidação do mistério? Eis a questão e é nisso que se apoia o trabalho incansável da família, o sorriso de simpatia da esposa e essa ausência fortemente presente no cotidiano de todos. Sempre lembrando que o pior de tudo é o esquecimento.

SERVIÇO: Renato Brandão usava camiseta básica de algodão da cor branca quando desapareceu, calção azul ou cinza, tênis branco e meia branca (com o nome da academia que eles frequentavam escrito nela), esticada até o meio da canela. Toda e qualquer informação que possa contribuir para solucionar o caso é bem-vinda.

Cartazes confeccionados e espalhados pela família nas redes sociais.LEIA TAMBÉM:

Está desaparecido Renato Brandão

Mensagem da família do engenheiro Renato Brandão, desaparecido desde o dia 13 de setembro

Mobilização em Curitiba para encontrar pessoas desaparecidas

Polícia acha bicicleta com que Renato Brandão saiu para passear e desapareceu

Família de Renato Brandão pede que caso não caia no esquecimento

Desaparecimento de engenheiro completa dois meses

Desaparecimento de engenheiro completa 3 meses
Por Thea Tavares

Publicado no Blog LadoB

http://blogladob.com.br/geral/quatro-meses-de-angustia/
 
GAZETA SANTA CÂNDIDA,JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

Postar um comentário

0 Comentários