Pressão e depressão

Crise? Qual crise? Só se foi aquela crise de abundância, depois da pancada vitoriosa à Bósnia, carregada de brio e convicção. Troika? Qual troika? Só se foi aquela tríplice composta por Nani, Postiga e Ronaldo, responsável por cinco dos seis remates certeiros. Pressão? Qual pressão? Só se foi aquela aptitude pelo jogo ofensivo, disparando talento no território adversário. Depressão? Qual depressão? Só se foi aquela dos aficionados bósnios, que Portugal derramou graça e gentileza.

O colectivo nacional qualificou-se para o Euro 2012. A caminhada teve um começo titubeante, ainda no rescaldo do Mundial da África do Sul, mais tantas peripécias pouco dignas de uma estrutura que se pretendia organizada, competente e astuta. Até a Mourinho se fez um dramático e quase surreal apelo sebastiânico. Paulo Bento assumiu, frustrada a hipótese de entregar o comando da Selecção, num bizarro part-time, ao reputado técnico do Real Madrid. Paulo Bento assumiu a pressão, assumiu a depressão. Paulo Bento sacudiu a pressão, sacudiu a depressão. Paulo Bento venceu em toda a linha. Venceu a pressão, venceu a depressão.

Na última terça-feira, na Luz, até havia muita gente com pressão futebolística, havia muita gente com depressão social. Gente que se transfigurou, tão imponente e contagiante foi o desempenho a que assistiu. Durante 90 minutos, a pressão é que castigou a depressão, a pressão é que goleou a depressão. Só que foi a pressão da unanimidade alegre, foi a pressão da vontade bonita, foi a pressão da alma lusitana. No futebol, provadamente, pode ser assim. No resto, provadamente, não parece que possa ser nada assim.
João Malheiro
Destak Portugal
GAZETA SANTA CÂNDIDA,JORNAL QUE TÊM O QUE FALAR

Postar um comentário

0 Comentários