Documentários registram a luta contra golpe em curso no Brasil

O constrangimento que as filmagens tem causado nos parlamentares que apoiam o golpe foram definidos pela senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) e pela cineasta Petra Costa

A luta da presidenta Dilma Rousseff pela preservação de seu mandato e, por conseguinte, a democracia no país, está na base do roteiro de quatro documentários estão em fase de produção. O ato final ocorre no Senado, com o discurso da mandatária em queda, nesta segunda-feira. No Plenário da Casa, os produtores dos filmes, documentaristas consagrados por suas obras no cinema, são hostilizados por aqueles parlamentares identificados com o governo do presidente de facto, Michel Temer.

A cineasta Petra Costa, de olho no visor de sua câmera, registra para a posteridade o golpe de Estado, em curso no Brasil

O constrangimento que as filmagens tem causado nos golpistas foram definidos pela senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) e pela cineasta Petra Costa. Gleisi comentou, em sua página de uma rede social, que o ataque à democracia em marcha no Congresso será julgado pela história e pelas gerações futuras, que terão à disposição grandes reportagens cuidadosamente coordenadas: “Golpistas reclamam das equipes de filmagem porque não querem o golpe registrado na história. Mas vai ter documentário com a carinha deles sim”, escreveu.

Petra Costa, antropóloga, atriz e cineasta, com dezenas de prêmios no currículo, tem sido alvo de ataques daqueles que apoiam o golpe e apontam sua obra como um libelo em favor de Dilma. A artista teve de vir a público para defender sua liberdade de registrar o momento histórico de acordo com seu olhar:

“Nas últimas semanas temos sido vítimas de calúnias em diversos veículos de comunicação, o que só revela o desconhecimento que existe sobre o gênero documentário. A alucinação chega a tal ponto de alguns dizerem que Dilma adotará tom emotivo no Senado só para ficar melhor no nosso filme!”, escreveu.

Petra registra que trabalha no documentário desde março, registrando um “momento histórico e tão delicado da nossa jovem democracia”. Ela revelou que tem entrevistado parlamentares de oposição e da base, advogados de defesa e de acusação e registrado protestos pró e contra o impeachment.

Citando o cineasta Patricio Guzman, ela reafirmou que um país sem documentários é como uma casa sem álbum de retratos. “O filme nasceu de um desejo de compreender como os bastidores da política, tão distantes do dia a dia do brasileiro (fisicamente, inclusive), estão impactando nossa sociedade, e vice-versa.”

Ela ainda critica a revista Veja: “A reportagem publicada em Veja, a qual cita o documentário que estou dirigindo, provisoriamente chamado “Impeachment”, incorre em erros que levam a desqualificar o meu trabalho. Equívocos que foram replicados em postagem feita pelo jornalista Reinaldo Azevedo. Em entrevista publicada na íntegra no site da revista, é possível compreender que não estamos participando de nenhum jogo de cena e que o texto da versão impressa não foi fiel as minhas declarações.”

Segundo o site do El Pais, pelo menos outros três produções sobre o atual momento político brasileiro estão em fase de produção. A paulista Anna Muylaert é roteirista e produtora de um documentário que será dirigido por Lo Politi, reconhecida diretora de publicidade, cujo foco principal e a presidente Dilma. 

O que a dupla quer com o filme é registrar o que serão possivelmente os últimos dias de Dilma no Governo, retirada da presidência e colocada à espera na rotina do Palácio da Alvorada, até a decisão final do Congresso. Ainda sem nome, o projeto foi apelidado por senadores e deputados de Será que ela volta?, pergunta pertinente que ainda por cima homenageia o longa de Anna.

O carioca Douglas Duarte planeja um filme que retrate o Congresso Nacional e a brasiliense Maria Augusta Ramos passou a filmar os acontecimentos políticos na Capital Federal a partir da votação do impeachment na Câmara, com os deputados votando por suas mães, seus filhos e outros parentes.
CORREIO DO BRASIL

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