MULHER QUE TOMOU ARMA DE MILITAR DURANTE TENTATIVA DE GOLPE NA COREIA DO SUL VIRA SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA

Mulher que agarrou arma de soldado se tornou símbolo da resistência à tentativa de golpe na Coreia do Sul: "Quando vi os soldados armados, senti como se estivesse testemunhando o retrocesso da história"


Ahn Gwi-ryeong


Yuna Ku, BBC

Durante os protestos na Coreia do Sul após o presidente Yoon Suk Yeol decretar lei marcial nesta terça-feira (3/12), uma imagem chamou atenção ao redor do mundo: uma mulher enfrentando soldados do Exército.

Ahn Gwi-ryeong, de 35 anos, porta-voz do Partido Democrático, sigla de oposição, tentou tomar a arma de um soldado durante o tumulto em frente à Assembleia Nacional do país. O Exército foi enviado para impedir que parlamentares entrassem no prédio.

“Eu não pensei. Apenas sabia que a gente precisava impedir isso”, disse ela ao serviço coreano da BBC.

Ahn se dirigiu ao prédio da Assembleia enquanto os soldados chegavam. Como muitos da geração mais jovem do país, o termo “lei marcial” era algo distante para ela. A última vez que havia sido decretada foi em 1979.

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Quando a lei marcial é declarada, atividades políticas como manifestações e comícios são proibidas, greves e movimentos trabalhistas são vetados, e as atividades da mídia e de editoras passam a ser controladas pelas autoridades. Quem descumprir as regras pode ser preso ou detido sem mandado.


“Um sentimento de pânico tomou conta de mim”, disse ela, sobre ter ouvido a notícia do decreto.

Após o voto do Parlamento, o presidente sul-coreano decidiu recuar e revogou a medida.
Retrocesso histórico

Logo após a declaração da lei marcial, o líder da oposição, Lee Jae-myung, convocou os parlamentares a se reunirem na Assembleia Nacional para votar pela anulação do decreto.


Chegando ao prédio da Assembleia por volta das 23h (horário local), Ahn relata que apagou as luzes do escritório para evitar ser detectada enquanto helicópteros sobrevoavam a área.

Quando chegou ao prédio principal, soldados confrontavam autoridades, assessores e cidadãos.

“Quando vi os soldados armados, senti como se estivesse testemunhando o retrocesso da história.”


Ahn e seus colegas trancaram as portas giratórias por dentro e empilharam móveis e outros objetos pesados em frente às entradas. Quando o avanço militar começou, ela tomou a iniciativa.

“Honestamente, fiquei com medo no início”, disse ela. “Mas, ao ver aquele confronto, pensei: ‘Não posso ficar calada’.”

A Assembleia aprovou a resolução pedindo o fim da lei marcial por volta da 01h, no horário local. Todos os 190 membros presentes votaram pela revogação. Às 04h26, o presidente Yoon anunciou que reverteria sua decisão.


Após o caos, Ahn conseguiu dormir um pouco no prédio da Assembleia.

“Na verdade, fiquei um pouco assustada de sair da Assembleia pela manhã, porque não parecia haver táxis circulando, e, depois de uma tempestade como a de ontem à noite, era difícil voltar à realidade.”


Durante a conversa com a BBC, Ahn estava vestindo a mesma blusa preta de gola alta e jaqueta de couro que apareciam nas imagens da noite anterior. Em alguns momentos, ela se emocionou ao dar seu relato.

“É de partir o coração e frustrante que isso esteja acontecendo na Coreia do Sul do século 21”, desabafou.

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