O QUE QUEREM OS JOVENS CONSUMIDORES DE NOTÍCIAS? PESQUISA INTERNACIONAL TENTA RESPONDER

Foto: Fer Troulik / Unsplash

LUCIANA GURGEL 

Londres – A pergunta de 1 milhão de dólares – ou muito mais, a julgar pelo tamanho do negócio, dos empregos gerados e do impacto social – para a indústria de mídia é: o que os jovens consumidores de notícias querem?

Uma pesquisa feita pela Medill School of Journalism, da universidade americana Northwestern, é mais uma a tentar responder, trazendo indicações que podem ajudar a direcionar esforços de conquista de novas audiências e também a entender a relação dos jovens da família com o noticiário.

O estudo “Entendendo o público de 2030” é resultado de entrevistas em profundidade com 45 jovens entre 18 e 25 anos de mercados bem diferentes: Estados Unidos, Nigéria e Índia.

As respostas foram analisadas à luz de pesquisas existentes sobre o tema e examinadas por um conselho de 19 especialistas em mídia e tecnologia. Eles identificaram fatores que estão moldando e continuarão a moldar a indústria de notícias nos próximos anos.

Foram destacados quatro comportamentos principais. Um deles não é novidade para quem convive com jovens, quase sempre de olhos grudados nos smartphones: eles fazem o que o estudo classificou de ‘transição fluida’ entre tarefas como fazer compras, mandar mensagens, assistir vídeos, postar nas redes – e se informar no meio de tudo isso.

Outro comportamento observado é a filtragem por meio de redes confiáveis, representando a busca por informação em fontes que conhecem – ou sentem que conhecem – , como os criadores de conteúdo independentes.

O terceiro é relacionado: a confiança em opiniões para entender as notícias. Por fim, o estudo registrou uma capacidade avançada de navegar em plataformas de mídia social e comunidades online para gerenciar a sobrecarga de informações.

Lacunas entre anseios dos jovens e como as notícias são entregues

A pesquisa apontou lacunas claras entre os que os jovens querem e o que está sendo entregue pelos que produzem notícias. Há conclusões que parecem óbvias, mas não são tanto assim quando se olha com atenção.

O primeiro anseio é que a fonte seja confiável. Até aí parece óbvio. Mas o que é fonte confiável para essa geração? Três elementos formam essa noção: credibilidade, afinidade e transparência de intenção.

Por confiabilidade entende-se algo diferente do que gerações anteriores viam como tal. Não se trata do tamanho da empresa jornalística ou do seu prestígio, e sim de pessoas que viveram uma determinada experiência, não somente aqueles que a relatam.

Isso quer dizer que uma pessoa migrante que escreve sobre o assunto mesmo sem altas qualificações jornalísticas pelos padrões tradicionais pode ter mais credibilidade do que um jornalista com vasta experiência profissional, prêmios e graduação em escolas renomadas, mas que não tenha vivido aquela experiência.

Afinidade lembra bolha de filtro: são os que pensam parecido, entrando aí os influenciadores, que podem ou não ter vivido a experiência.

E transparência de intenção está relacionada a aspectos como quem financia um canal ou empresa de mídia, informação nem sempre clara inclusive nas mídias sociais.

A segunda grande expectativa é “significado pessoal”. Não é mais o que o veículo acha que é relevante para o público, e sim o que o jovem consumidor julga importante, levando a uma redefinição do que é notícia, segundo o estudo.

Esse anseio está apoiado em dois pilares: informação que interessa por fazer parte do universo pessoal, e notícias que ajudem a tomar decisões.

O terceiro grande anseio é a forma de contar a história, com narrativa envolvente. Isso se desdobra em conveniência (notícias disponíveis nas plataformas preferidas e personalizávei)s; linguagem (clara, acessível, informal) e em um formato que funcione para cada situação – de notícias rápidas a vídeos aprofundados.



O ‘mapa da mina’ para conquistar os jovens

O estudo da Medill dá conselhos para quem quer sobreviver nesse mundo de gente que sabe o que quer e o que não, quer.

Entre eles estão parcerias com criadores independentes para construir afinidade, colocar jornalistas para falarem diretamente com o público – como alguns jornais passaram a fazer com sucesso no TikTok – e aproveitar a IA para personalizar a entrega do conteúdo.

A pesquisa recomenda também que a indústria de mídia imite os formatos e as experiências dos usuários nas redes sociais, como a tendência de vídeos curtos. Linguagem simples e humor são outras recomendações, assim como formatos projetados para quem não vai mesmo ler textões.

Outra das sugestões está em sintonia com outras pesquisas sobre evasão de notícias: jornalismo de soluções, mostrando saídas e não apenas “coisas terríveis que acontecem ao redor”, como relatou um dos jovens participantes do estudo.

A pesquisa completa pode ser vista aqui.


Luciana Gurgel
Jornalista baseada em Londres, é co-fundadora e Editora-chefe do MediaTalks. É também colunista de mídia e comunicação no J&Cia/Portal dos Jornalistas. Faz parte da FPA London (Foreign Press Association).



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