BOLSONARO CORTA 87% DE DOAÇÃO DE LEITE PARA FAMÍLIAS POBRES NO NORDESTE E MINAS GERAIS

Bolsonaro tirou o leite das crianças pobres de duas formas em 2022: viu o produto acumular alta de mais de 50% e, ao invés de aumentar a sua doação para minimizar o estrago, fez exatamente o contrário. Neste ano, levantamento mostra que a entrega de leite às famílias no Nordeste e em Minas Gerais foi reduzida em 87%

Bolsonaro (Evaristo Sá/AFP)


Leonardo Sakamoto

O governo Jair Bolsonaro conseguiu tirar o leite das crianças pobres de duas formas em 2022: viu o produto acumular alta de mais de 50% e, ao invés de aumentar a sua doação para minimizar o estrago, fez exatamente o contrário. Neste ano, levantamento mostra que a entrega gratuita de leite às famílias em extrema pobreza no Nordeste e em Minas Gerais foi reduzida em 87%.

Há poucos produtos tão simbólicos no combate à fome que o leite. E o Brasil contava com uma boa estratégia para comprar de pequenos produtores e distribuir a quem mais precisa, o Programa de Aquisição de Alimentos – rebatizado e enfraquecido na forma do Alimenta Brasil de Bolsonaro.

Entre janeiro e agosto deste ano, o total de litros distribuídos nos nove estados do Nordeste e em Minas caiu 87% em relação ao ano passado. Nessa área estão 11 das 20 milhões de famílias que receberam o Auxílio Brasil.

Em 2021, foram quase 29 milhões de litros distribuídos de janeiro a agosto, frente a 2,1 milhões em 2022. Vale lembrar que, no mesmo período, a fome passou de 19 milhões para 33 milhões de pessoas no Brasil, segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Ou seja, o timing para a diminuição foi péssimo.

Ao mesmo tempo em que cortou a distribuição de leite de um lado, fazendo com que prefeituras (responsáveis por fazer o produto chegar a quem precisa) e famílias fizessem mágica, o governo federal permitiu que a alta do preço dificultasse o consumo de leite por outra frente.

De janeiro a setembro, o IPCA, inflação oficial brasileira medida pelo IBGE, registrou alta de 50,7% no leite longa vida na média nacional. Rio de Janeiro (64,4%), Brasília (62%), São Luís (61,5%), e Aracaju (60,2%) tiveram os maiores aumentos.

Os números já foram mais assustadores, mas continuam altos, mesmo com o fim da entressafra. O litro chegou a ser vendido a mais de R$ 10 em algumas localidades, fazendo com que famílias substituíssem o leite pelo soro de leite para às crianças. Enquanto o governo culpava uma estiagem mais dura este ano, o que prejudicou as pastagens, o produto virava “item de luxo” em supermercados.

Mas não foi apenas fatores sazonais e climáticos, uma vez que o impacto da inflação geral nos custos de produção, que vão da alimentação das vacas, passando pelo custo de medicamentos e fertilizantes até o combustível usado na produção, processamento e transporte do produto, afetou o preço.

Um governo com capacidade de planejamento teria, diante dessa situação e considerando a importância do produto para as crianças, reforçado a distribuição de leite. No Brasil de Bolsonaro aconteceu o oposto: o preço subiu e cortes foram feitos na entrega gratuita do produto.

É isso o que acontece quando recursos que deveriam ser destinados a programas federais integrados caem e sobe o montante que vai ser distribuído de forma picada e eleitoreira por emendas parlamentares através do orçamento secreto. Dinheiro para o Bolsolão não faltou, mas para o leite das crianças sim.


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