Em maio de 2022, a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) precisou esclarecer em suas redes sociais a razão pela qual o Palácio Rio Branco estava iluminado de vermelho. Isso porque um blog curitibano fez uma postagem acusando a CMC de comemorar a cassação de um parlamentar conservador. Na realidade, a iluminação era apenas parte da campanha de conscientização sobre o Dia Internacional da Menstruação, celebrado no 28 de maio.
A popularização de termos como pós-verdade, fake news e desinformação cresceu muito nos últimos anos, principalmente na esfera política. A preocupação social é tanta que a CMC uniu-se ao projeto Gralha Confere, do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PR), para apoiar o combate à desinformação acerca do processo eleitoral no Paraná.
Até o final do pleito, a Câmara de Curitiba divulgará as checagens e desmentidos elaborados pela equipe do TRE-PR, para amplificar as vozes que falam a verdade, em detrimento de quem espalha mentiras e fake news. Essa reportagem em série tem o objetivo de mostrar o tamanho desse problema, sua história e despertar o interesse da população pela veracidade dos fatos.
A prática de disseminar informações falsas ou distorcidas é ainda mais antiga. Apesar de ser impossível determinar uma data, é possível ter uma noção do tempo que a manipulação da informação está presente na sociedade, e quais podem ser suas consequências. Em sua tese de doutoramento, Tatiana Dourado menciona a “guerra de desinformação sem precedentes” que aconteceu nos anos 44 a.C, durante a guerra civil resultante do assassinato do Imperador Júlio César, no fim do Império Romano.
A briga pelo poder entre o general Marco Antônio e o filho adotivo de Júlio César, Otaviano, foi marcada por mensagens espalhadas em esquinas, ruas e cidades. “Otaviano provou ser o propagandista mais esperto”, menciona Dourado, explicando como este usou slogans curtos e afiados para tentar acabar com a reputação de Marco Antônio.
Em 2016, o Dicionário Oxford classificou “pós-verdade” como a palavra do ano. As pós-verdades seriam informações caracterizadas pela distorção da verdade, visando manipular a opinião pública. É também no mesmo ano que as fake news começam a ganhar força - impulsionadas pela campanha do ex-presidente americano Donald Trump.
Ainda que muito usado atualmente, o termo fake news é considerado contraditório por muitos. Isso porque, se é notícia (news) - ou seja, se respeitou as perícias técnicas do jornalismo - não pode ser falsa (fake). Apesar da contradição, até o momento não existe expressão que possa substituir a “fake news” e mantenha seu significado: informações falsas divulgadas como se fossem verdadeiras.
Cinco meses antes do povo ir às urnas, o jornal carioca Correio da Manhã publicou cartas atribuídas ao mineiro Artur Bernardes, onde este insultava o ex-presidente marechal Hermes da Fonseca, as forças armadas e seu adversário, Nilo Peçanha. Ofensas como “sargentão da compostura”, “essa canalha” e “generais anarquizadores” estavam presentes, entre outros insultos.
Ainda que as cartas tenham sido provadas falsas - através de exames grafotécnicos - as mesmas causaram muita polêmica na época. Os militares se voltaram completamente contra Artur Bernardes, e outras figuras políticas da época também se manifestaram opostos ao então candidato.
O senador Irineu Machado, por exemplo, chegou inclusive a afirmar sobre a “necessidade de uma rebelião nacional, com a esperança que as armas do Exército acudam ao povo brasileiro”, incitando os militares a acabar com a candidatura de Bernardes. Ainda que a campanha contra tenha sido grande, Artur Bernardes ganhou as eleições, governando o país de 1922 a 1926.
Nilo Peçanha e as forças armadas chegaram a pedir anulação da eleição, alegando fraude, mas o pedido foi rejeitado. Assim, com a eleição de Artur Bernardes, houve levantes pelo país, principalmente por parte dos militares mais jovens. Bernardes ainda passou seu mandato praticamente todo com o Brasil em estado de sítio - que restringe diversos direitos, como o de reunião e liberdade de imprensa - por conta da sua impopularidade.
Bernardes completou o mandato, passando a faixa presidencial para Washington Luís em 1926, porém isso não significa que tenha sido “um mar de rosas”. Muito pelo contrário: quanto mais a população - principalmente o Exército - se revoltava contra o governo, mais Bernardes reagiu, colocando “lenha na fogueira”.
Foi durante o governo de Artur Bernardes que a cidade de São Paulo, por exemplo, presenciou um cenário de guerra, com direito a tanques de guerra no rio Ipiranga e bombardeios responsáveis pelas mortes de diversos civis. O que aconteceu foi que os militares rebelados tomaram o poder em São Paulo - com ajuda da Força Pública, a Polícia Militar da época - e a reação do então presidente foi dar ordens de combate ao Exército.
Em 1924, após os levantes mal sucedidos em São Paulo, os “rebeldes” decidem marchar pelo país reunindo a população para derrubar Artur Bernardes da presidência. Nascia assim a Coluna Prestes, que reuniu os rebelados de São Paulo com os do Rio Grande do Sul e pretendia marchar de norte a sul do Brasil, para chegar ao Rio de Janeiro e depor Artur Bernardes.
Por mais que a imprensa da época tentasse passar a imagem de sucesso do movimento anti-governista - pintando a Coluna Prestes como heroica -, a verdade é que novamente a rebelião não obteve sucesso. Além das estradas precárias e da fragilidade do movimento, a população não se juntou aos rebelados na marcha para o Rio de Janeiro. Inclusive, muitos "coronéis" - chefes políticos locais - colocaram seus capangas para lutar contra a Coluna Prestes, que foi se desfazendo pouco a pouco.
Assim, a Câmara de Curitiba se juntou ao TRE-PR no projeto Gralha Confere, que busca checar informações e boatos sobre o processo eleitoral (saiba mais).
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