EMPRESÁRIO AMIGO DE BOLSONARO DIZ QUE 'BRASIL MAIS DE DESIGALDADE, NÃO MENOS'

Empresário que apresentou Paulo Guedes a Jair Bolsonaro gerou onda de indignação e foi criticado pela “perversidade” e “ódio aos pobres” após declaração. 

A repercussão fez com que Winston Ling apagasse o texto

Jair Bolsonaro e Winston Ling


RBA

Internautas e personalidades políticas criticaram nas redes sociais a declaração do empresário bolsonarista Winston Ling, que usou sua conta no Twitter para defender que no Brasil “nós precisamos de mais desigualdade, não menos”. Conhecido por ter apresentado o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao presidente Jair Bolsonaro (PL) na campanha eleitoral de 2018, Ling sustentou seu argumento com um texto do Instituto Mises, uma associação voltada à produção e disseminação de ideias liberais.

A frase do empresário repetia o titulo do texto do Mises de que “a desigualdade impulsionada pelo mercado é fonte de progresso”. “As atividades dos indivíduos talentosos desencadeiam mudanças econômicas e tecnológicas que impulsionam o crescimento econômico a longo prazo e criam oportunidades para as pessoas medianas ingressarem nos círculos da elite”, alega o texto. A publicação veio à tona pela coluna Painel S.A, do jornal Folha de S.Paulo. O post, no entanto, foi apagado por Ling.

A defesa da desigualdade, porém, também é explorada em outros compartilhamentos do empresário bolsonarista. Como uma postagem, de 11 de julho, também com texto do instituto, em que Ling diz que transferência de riqueza seriam “esmolas”. “Os países em desenvolvimento não precisam de transferências de riqueza (esmolas), eles precisam de mercado livre”, tuitou. Curiosamente, na mesma rede social, o bolsonarista defendeu a “PEC das Bondades”, também apelidada de “PEC do Desespero”, proposta de emenda à Constituição que permite ao governo federal turbinar benefícios sociais às vésperas das eleições.

‘Miséria não é progresso’

Os comentários provocaram uma onda de indignação de internautas a personalidades políticas de diferentes partidos e lideranças sociais. Pré-candidato a deputado federal pelo Psol em São Paulo e coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo Sem Medo, Guilherme Boulos classificou a declaração como uma “vergonha”. “Para quem apoia o governo Bolsonaro e Paulo Guedes, 33 milhões de pessoas passando fome não são o suficiente”, criticou Boulos.

O dado mencionado faz parte do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado em junho. O estudo mostra que, em apenas um ano, o número de brasileiros sem ter o que comer saltou de 19 milhões para 33,1 milhões. São mais 14 milhões de pessoas com fome. O que levou o Brasil a regressar a um patamar equivalente ao da década de 1980.

“Pra eles, a nossa miséria nunca será o suficiente porque é diante da nossa tragédia que o bolso deles enche!”, contestou a vereadora de Porto Alegre Bruna Rodrigues (PCdoB). O deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) também destacou que a publicação do empresário revela “a verdadeira cara do bolsonarismo”. “Brasileiro na fila do osso, soro de leite, feijão quebrado, carcaça de frango e vem empresário bolsonarista dizer que precisamos de mais desigualdade.”

Desigualdade abala economia

Ainda em 2015, um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) – instituição longe de ser conhecida por tendências esquerdistas – garantiu que o aumento da desigualdade social tem, ao contrário da alegação do empresário bolsonarista, impacto negativo sobre a economia mundial. “Se a fatia de renda dos 20% mais ricos aumenta, o crescimento do PIB cai em médio prazo”, concluíram os pesquisadores do FMI. As análises integram o relatório intitulado Causas e Consequências da Desigualdade de Renda em uma Perspectiva Global.


A publicação ainda sugere a adoção de políticas de distribuição de renda e impostos sobre grandes fortunas para um crescimento econômico sustentável. Pouco tempo depois, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo formado principalmente por países ricos, também enfatizou que a desigualdade não é boa para a economia.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) lembrou que o Brasil “já é um dos países mais desiguais do mundo”. “Voltamos à condição de nação de famintos”, reforçou o parlamentar. O inquérito de insegurança alimentar também confirma que a fome no Brasil é uma questão da falta de renda e de trabalho. Esse grave problema social vitimiza sobretudo pessoas que sobrevivem com menos de um salário mínimo e que estão desempregadas, ou em ocupações informais.

A deputada estadual Renata Souza (Psol-RJ) destacou que a publicação do empresário reforça a responsabilidade de Bolsonaro no projeto de desigualdade do Brasil. “E há quem diga que os 33 milhões com fome neste país não é culpa do presidente…”, ironizou.

Confira as reações




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