INQUÉRITO DAS FAKE NEWS PRECISA PEGAR OS TERRORISTAS E OS DONOS DO DINHEIRO

Moraes e todo o STF sabem que, às vésperas da eleição imaginada por Bolsonaro como um faroeste, nenhum serviço da Justiça pode ficar incompleto. Não mais

Imagem: Carlos Moura | STF


Moisés Mendes*, em seu blog

Os políticos desistiram da CPI das Fake News, porque seria um estorvo de desfecho imprevisível em ano eleitoral, e jogaram o fardo no colo de Alexandre de Moraes.

É um fardo pesado, imenso, disforme, mas terá de ser aberto e exposto em algum momento, ou o Supremo cometerá o erro do Senado na CPI do Genocídio, quando parou onde não deveria ter parado.

As investigações das fake news são hoje decisivas para a democracia e precisam de resultados. Se a engrenagem em funcionamento dentro e fora do Planalto não for avariada, teremos este ano bem mais do que a mamadeira de piroca de 2018 dos tios do zap.

Bolsonaro investiu contra Moraes e já fracassou. Mas dá sinais de que se dedica ao que interessa. O inquérito o preocupa. A ação rejeitada por Dias Toffoli não é apenas tentativa de desvio de foco.

Bolsonaro já tentou parar as investigações, com intervenções de um dos ministros que considera da turma dele no Supremo, não necessariamente para que sejam engavetadas.

O sonho de Bolsonaro, dos operadores das milícias digitais e dos seus financiadores é o de controlar um inquérito daqueles de papel, que pudesse ser jogado num canto, embaixo de uma goteira, para que fosse consumido pelas traças e pelo mofo.

Foi o que fizeram com tantas outras investigações, entre as quais as do caso Banestado. Foram largadas e abandonadas. Apodreceram, para que ninguém mais se lembre do que tratavam.

É difícil fazer o mesmo com o inquérito que reúne as fake news, os atos antidemocráticos e agora os ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas.

Esse inquérito é um bicho vivo dentro do fardo no colo de Moraes, não é um bicho morto, como talvez já esteja a maioria dos inquéritos sobre as quadrilhas da pandemia.

O inquérito das fake news trata de crimes que devem se repetir este ano. Ataques que só não serão mais devastadores do que em 2018 se o Supremo evitar desta vez o fracasso do TSE no ano passado com os processos que envolviam as mesmas suspeitas e os mesmos indícios.

O Supremo não tem mais a chance que o TSE teve de livrar Bolsonaro e Mourão. Se afrouxar, se sugerir que não tem como chegar à estrutura das milícias, teremos fracassado. Todos.

Na terça-feira, em entrevista a Roberto D’Avila, na Globo News, o ministro Gilmar Mendes falou de um aspecto crucial para que o inquérito tenha um bom final. Mendes se referiu aos financiadores do esquema.

O ministro deu a entender que o Supremo sabe quem são os ricos empresários (incluindo sonegadores?) que patrocinaram as milícias em 2018.

Só repetiu o que Moraes já havia dito. Que as sindicâncias estão finalmente levando aos donos da dinheirama da fábrica de mentiras, difamações e ódio.

Também se sabe agora, por informações do ministro Luiz Fux, que as milícias se dedicavam a “atos preparatórios de terrorismo contra o Supremo Tribunal Federal”. O STF sabe quem são os terroristas e seus patrocinadores.

Mas, se pegar os operadores do terror e não pegar os que os financiavam (com dinheiro vindo de onde?), o Supremo terá feito um serviço pela metade.

Moraes e todo o STF sabem que, às vésperas da eleição imaginada por Bolsonaro como um faroeste, nenhum serviço da Justiça pode ficar incompleto. Não mais.

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim).


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