CHEFE DA PF NO AMAZONAS É DEMITIDO APÓS PEDIR INVESTIGAÇÃO DE SALLES

Ao pedir a cabeça de chefe que mandou investigar ministro do Meio Ambiente, governo Bolsonaro confirma o aparelhamento da Polícia Federal

Alexandre da Silva Saraiva (Imagem: Wérica Lima | Inpa)

O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Gustavo Maiurino, trocou o chefe do órgão no Amazonas, o superintendente Alexandre Saraiva. A decisão foi revelada nesta quinta-feira (15) pela Folha, e confirmada no início da noite pela assessoria de imprensa da corporação, que passou por troca recente de comando no governo Jair Bolsonaro.

“Em especial, no tocante à alteração da chefia da Superintendência Regional do estado do Amazonas, cumpre esclarecer que o Delegado de Polícia Federal Alexandre da Silva Saraiva, que permaneceu durante três anos e meio à frente da Superintendência, foi comunicado da substituição no decorrer da tarde de ontem (14/04)”.

A decisão do comando da corporação de trocar Saraiva ocorreu um dia após ele encaminhar uma notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Ministério Público Federal (MPF) em que pede investigação contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que tem defendido empresários madeireiros alvos da operação da PF no Amazonas na maior apreensão de madeira ilegal da história. Embora protocolada no dia 14, a notícia-crime estava sendo elaborada desde o dia 10.

“Minha função é investigar. Foi o que eu fiz aqui durante esses anos”, disse Saraiva. “Não fiz concurso para superintendente, fiz para delegado”, completou, lembrando que foi superintendente em outros estados, como Roraima e Maranhão.

“Eu sou um soldado, cumpro missão. Nunca pedi pra ser chefe de nada. Nunca neguei missão na PF e nunca tive missão fácil. E toda minha carreira, quero deixar isso claro, toda minha carreira foi totalmente dentro da Polícia Federal. Nunca fui cedido a órgão nenhum”, disse o delegado em provocação indireta ao novo diretor.

Em princípio, o caso envolvendo a apreensão das madeiras continua com Saraiva, mesmo com a saída dele do comando da PF do Amazonas. Como adiantou a coluna Radar, ele será substituído no cargo pelo braço-direito dele no órgão, o delegado Leandro Almada.

O atrito entre o superintendente da PF no Amazonas e Salles começou a partir da Operação Handroanthus GLO, deflagrada em dezembro do ano passado, divulgada como a maior apreensão de madeira ilegal da história do país. O volume de toras encontradas chegou a 226.760 metros cúbicos, cujo valor foi estimado pela PF em pouco mais de 129 milhões de reais.

A ação gerou reclamação de empresários que se apresentaram como donos de parte da carga e que conseguiram apoio do ministro do Meio Ambiente. Salles se reuniu com os madeireiros, passou a defendê-los em público e viajou com recursos públicos duas vezes a um dos locais de apreensão no Pará, onde encampou a versão dos empresários em detrimento da apuração da PF. Disse que foram apresentados documentos que indicam a origem legal da madeira, ao contrário do que aponta a investigação da corporação no Amazonas encabeçada por Saraiva.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o superintendente chegou a responder às críticas do ministro e afirmou que a PF “não vai passar boiada”. Salles, por sua vez, disse que uma “demonização” indevida do setor contribuiria para aumentar o desmatamento ilegal.

Na notícia-crime encaminhada ao STF, Saraiva afirma que “o setor madeireiro iniciou a formação de parcerias com integrantes do Poder Executivo” na tentativa de “causar obstáculos à investigação de crimes ambientais e de buscar patrocínio de interesses privados e ilegítimos perante a Administração Pública”.

Para o delegado, há indícios de que Salles incorreu em advocacia administrativa, quando o agente público patrocina, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário.

O instrumento da notícia-crime é usado para alertar uma autoridade da ocorrência de um ilícito. Com base no que Saraiva apresentou, o STF deverá decidir se abre a investigação contra Salles. No documento, o superintendente da PF no Amazonas pede apuração também contra as condutas do senador Telmário Mota (PROS-RR) e o presidente do Ibama, Eduardo Bin.

Trocas em cinco superintendências

Além do Amazonas, o comando da PF informou em nota “que estão em andamento os procedimentos para as mudanças” nas chefias das Superintendências Regionais nos estados de Santa Catarina, Roraima, São Paulo e Bahia.

Ricardo Cubas Cesar, Richard Murad Macedo, Dennis Cali e Daniel Justo Madruga darão lugar aos elegados Luiz Carlos Korff Rosa Filho (SC), José Roberto Peres (RR), Rodrigo Piovesano Bartolamei (SP), Virgínia Vieira Rodrigues Palharini (BA).

Com Veja e Folha



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