A VIGARISTA RUSSA QUE PASSOU A PERNA NA ALTA SOCIEDADE DE NOVA YORK

História da vigarista russa que enganou Nova York é digna de cinema. Durante o julgamento, ela chamou a atenção da imprensa dos EUA pelas roupas que vestia e por manter a pose mesmo já desmascarada e algemada num tribunal

Anna Delvey (Imagem: Richard Drew | AP)

A herdeira alemã Anna Delvey, de 28 anos, vivia uma vida dos sonhos para muitas mulheres nessa faixa etária, com longas hospedagens em hotéis de luxo de Nova York, festas com a elite nova-iorquina e viagens para estadias de férias no outro lado do Atlântico.

Nesta quinta-feira (09/05), ela foi condenada por um tribunal da cidade norte-americana a uma pena de 12 anos, que pode ser reduzida para quatro anos se houver bom comportamento, pelo crime de se fazer passar por alguém que ela não era e ter se apropriado, de forma indevida, de 275 mil dólares em serviços – uma vigarista, em suma.

Ela terá de devolver 200 mil dólares às suas vítimas e pagar uma multa de 24 mil dólares, determinou o tribunal. A juíza Diane Kiesel se declarou tão impressionada com as descrições feitas pelas vítimas que rejeitou o pedido para descontar na sentença o tempo já passado na prisão desde a detenção de Delvey, em outubro de 2017.

Durante o julgamento, Delvey chamou a atenção da imprensa dos EUA pelas roupas que vestia e por manter a pose mesmo já desmascarada e algemada num tribunal.

Em maio de 2018, depois de já ter sido desmascarada e presa, acusada de roubo, Delvey, que na verdade se chama Anna Sorokin, nasceu na Rússia e se mudou para a Alemanha com 16 anos, deu uma entrevista para a revista New York, que revelou a história da falsa herdeira que enganou a alta sociedade nova-iorquina.

Em Nova York, entre novembro de 2016 e agosto de 2017, Sorokin se apresentou como uma rica herdeira alemã e viveu uma vida de luxo às custas de outros. Ele obteve crédito junto a bancos, viajou de graça para outros países e viveu meses em hotéis de Manhattan sem pagar a conta.

Ela alugou um jatinho para viajar para Omaha para uma conferência anual do grupo Berkshire Hathaway para ver o presidente da empresa, o investidor Warren Buffet, passou uma semana num hotel de luxo em Marrakech e jantou em restaurantes nobres com celebridades norte-americanas, como o ator Macaulay Culkin.

Toda essa vida era documentada na rede social Instagram, onde Sorokin tinha uma conta.

Em Nova York, Sorokin contava a história de que era uma herdeira vinda de uma pequena cidade alemã perto de Colônia e esperava assumir seu fundo fiduciário quando chegasse aos 25 anos para aí abrir um espaço cultural na cidade.

O sonho dela era abrir um centro de artes plásticas na Church Missions House, um prédio histórico na esquina da Park Avenue com a East 22nd Street. Um designer gráfico londrino estava encarregado do logotipo do centro, que já tinha nome: Anna Delvey Foundation.

Esse centro de artes plásticas nunca virou realidade. Toda a vida de Anna Delvey era uma fraude. Quando foi presa, em outubro de 2017, ela já tinha um histórico de contas não pagas e pessoas perplexas com o seu comportamento.

Na reportagem da revista New York, a jornalista que a assina falou não apenas com Sorokin, mas também com as pessoas que a conheceram como socialite. Ela apresenta uma sociedade onde é fácil conseguir dinheiro e amigos. “Resiliência é difícil de encontrar. Mas não dinheiro“, diz Sorokin.

O dinheiro que Sorokin gastava não era dela. O pai dela, um ex-caminhoneiro russo que hoje tem uma empresa em Eschweiler, na Alemanha, disse à New York que não existe nenhum fundo fiduciário.

Uma das pessoas enganadas por Sorokin é a jornalista Rachel Deloache Williams, uma editora de fotografia na revista Vanity Fair. Ela escreveu, nessa revista, sobre a sua experiência de ter ficado com a conta de 62 mil dólares de uma estada de uma semana num hotel de luxo no Marrocos.

“Buscar o reembolso por Anna virou o meu trabalho integral. O stress me tirava o sono e enchia os meus dias. Meus colegas de trabalho me viam perder o controle. Eu aparecia na redação pálida e acabada“, escreveu Williams.

Ela conseguiu recuperar o dinheiro por outros meios. Em julho de 2019, Williams vai publicar sua versão da história num livro intitulado Minha amiga Anna. Ela obteve 300 mil dólares pelos direitos do livro e ainda vendeu a história para a HBO por mais 35 mil dólares.

Outro que contou o que viveu foi o colecionador de arte Michael Xufu Huang, com quem Sorokin foi à Bienal de Veneza. Ele contou à New York que achou estranho quando ela lhe pediu para pagar as passagens aéreas no seu cartão de crédito e depois “esqueceu” de lhe pagar os cerca de 3 mil dólares. Ele disse que entendeu o que estava acontecendo quando, tempos depois, um restaurante de luxo lhe telefonou em busca do contato de Sorokin, que não havia pagado um jantar com amigos.

Os direitos da reportagem publicada pela New York foram comprados pela Netflix e pela produtora Shondaland, o que indica que a luxuosa vida de falsária de Anna Delvey deverá ser filmada em breve.

Courtney Tenz, Deutsche Welle

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