O PROFESSOR BRASILEIRO QUE CONCORRE AO 'NOBEL DA EDUCAÇÃO'

Professor brasileiro que defende mais mulheres na Ciência está entre os 50 finalistas do Global Teacher Prize, considerado o "Prêmio Nobel da Educação". Único brasileiro indicado, Márcio de Andrade Batista foi escolhido entre milhares de candidatos de 148 países

Márcio de Andrade Batista, professor (reprodução)


Um engenheiro químico que descobriu, na sala de aula, sua maior vocação. Os trabalhos voluntários do professor Márcio de Andrade Batista com o ensino médio, universitário e com comunidades fizeram ele se tornar o único brasileiro entre os 50 finalistas do Global Teacher Prize, considerado o “Prêmio Nobel da Educação”.

Filho de uma professora e leitor voraz da Coleção Vaga-Lume na infância, Batista foi escolhido entre milhares de candidatos de 148 países. Apenas 29 nações são representadas na edição 2016.

A premiação será realizada no dia 13 de março, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O prêmio é de US$ 1 milhão e reconhece um “professor excepcional que tenha feito uma contribuição extraordinária para a profissão“.

A orientação de projetos inovadores, como o uso da casca da castanha de baru para fazer farinha, a criação de pão de castanha enriquecido com soro de queijo produzido por pequenos produtores, e a formação de soldadores são algumas das missões de Batista.

A experiência dele como educador o fez perceber o potencial de suas alunas, e ele passou a encorajá-las a investir nas ciências.

Os resultados desse incentivo foram aparecendo: a estudante Bianca Valeguzki de Oliveira, na época com 16 anos, ganhou o terceiro lugar no Prêmio Jovem Cientista em 2012; Karla Cristina Rodrigues, aluna de engenharia de alimentos da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), foi vencedora do Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade. Também estudante de engenharia de alimentos, Cibele Maria Antunes Vilela foi finalista do prêmio.

Em entrevista ao HuffPost Brasil, Batista celebrou os resultados:


“Ciência é muito mais questão de vontade do que de gênero. Claro que precisamos levar em consideração o contexto onde as meninas estão inseridas, região de acesso e cultura familiar. Quando falo do empoderamento feminino sofro muitas críticas, mas é o que presencio pela região. Veja a Bianca, uma menina do interior de Juína (MT)… Nunca tinha ouvido falar de projeto de ciências e muito menos no Jovem Cientista.”

O estímulo à ciência pode vir de casa, antes mesmo da iniciação escolar. Batista recomenda que os pais ensinem os filhos a fazer perguntas, sobre tudo, desde cedo.


“O resto vem quase naturalmente. Evitem dar respostas prontas. Deixem que cometam alguns pequenos erros. Estimulem a fazer perguntas que possam ser consideradas ‘tolas’. Deixem a curiosidade natural das crianças fluírem. Não existem perguntas tolas.”

De acordo com Batista, é preciso aproximar os alunos da realidade em que estão inseridos, com questionamentos como o papel deles na comunidade e como utilizar os recursos que se tem disponíveis.

O professor chegou a receber um balde de água fria em sala de aula, quando cursava o ensino técnico no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). “Em 1988, pensei em um parafuso de cabeça triangular. Fui fortemente desestimulado pelo instrutor na época e nunca mais pensei na ideia. Quase 25 anos depois, ganhei o prêmio Ciser justamente pelo projeto de um parafuso (risos).”

A persistência, porém, teve como alicerce o gosto pelo assunto a inspiração de educadores.


“Adoro a ciência e sei de seu poder libertador. Tive a sorte de ter bons professores que sabiam ciência e melhor, sabiam explicá-la.”

Amanda Mont’Alvão Veloso, HuffPost Brasil

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