O DIA DE GLÓRIA DE SÉRGIO MORO

4 de março de 2016 é o dia de glória de Sérgio Moro. Ele conseguiu, numa simples vara judicial, mais do que conseguiria se dispusesse, como na frase célebre, “dos seus capangas lá do Mato Grosso”. Meter um ex-presidente da República num camburão: “Manda buscar aquele sem-vergonha e traz para a delegacia”. E com requintes de constrangimento: sexta-feira, bem cedo, justo na hora para as edições da Veja e da Época fazerem suas capas

Sérgio Moro (reprodução)


Fernando Brito, Tijolaço

É o dia de glória de Sérgio Moro.

Com toda a cobertura legal que se autoconcede, conseguiu, numa simples vara judicial, mais do que conseguiria se dispusesse, como na frase célebre, “dos seus capangas lá do Mato Grosso”.

Meter um ex-presidente da República num camburão da política.

“Manda buscar aquele sem-vergonha e traz para a delegacia”.

E com requintes de máximo constrangimento: sexta-feira, bem cedo, bem na hora para as edições daVeja e da Época fazerem suas capas.

Porque é preciso quebrar a alma do cidadão, pretendendo humilhá-lo diante de todos.

Sérgio Moro, apontado como paladino da Justiça, é seu pior violador, porque usa a toga para tirar-lhe das mãos a balança, o equilíbrio, a ponderação.

Não fosse o fato de termos uma imprensa que age como um aparelho golpista e antidemocrático, Moro nem sequer estaria respondendo por seus atos, porque jamais teria coragem de praticá-los.

Por que conduzir aparatosamente alguém para depor jamais foi chamado por seu tribunal a isso?

Por que, sobretudo, quando o ex-presidente acabara de ter uma ordem judicial que o protegia deste abuso mas que, como dizem os jornais “só valia para São Paulo”?

É simples.

Por que não é a prudência quem lhe guia os atos, como compete a um magistrado, mas a obsessão de poder.

Não este poder corrupto, desprezível, fisiológico que se obtém junto à malta, pelo voto.

O poder obtido pelo uso ilegítimo da autoridade judicial, em flagrante simbiose com o que há de mais autoritário e corrupto no Brasil: o seu sistema de comunicação.

Durante mais de dois anos, dedicou-se com afinco a isso, desde que conseguiu, usando o ladrão que mandara soltar – Alberto Youssef – infiltrar-se nas podridões havidas na Petrobras, claro que a partir de certa data, apenas.

E, reconheça-se, não o fez às escondidas, chegando a publicar todos os passos do projeto de demolição das estruturas que esperava alcançar em seus ensaios sobre a operação Manu Politi italiana, embora já nos falte aqui um Berlusconi.

Teve ajuda, é claro.

A mais importante delas, depois dos meios de comunicação, a ilusão do “Brasil de Todos”, que julgou que o controle remoto, as “instituições republicanas” e o equilíbrio dos homens e mulheres aos quais conduziu ao comando do Judiciário zelariam pelo equilíbrio do país.

Os versos, que não sendo dele, atribuem-se a Brecht – “um dia, vieram buscar os judeus, como eu não era judeu, não protestei…” – casam à perfeição com o que se passa no Brasil.

Curitiba imita a Baviera e, graças a esta inação, encontra a nação perplexa e a esquerda exangue.

Os tribunais, ah, os tribunais… Cunha, com todas as provas e documentos de favorecimento pessoal que existe não foi levado a depor à força, com ou sem “japonês”.

Há mil razões para uma democracia transformar-se numa ditadura, onde impera o arbítrio.

E nenhuma razão para que valentes se transformem em covardes e o aceitem.

É o dia de glória para Moro e o dia da vergonha para a Justiça brasileira.

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