A REAÇÃO DE UMA JOVEM RIDICULARIZADA EM SALA DE AULA POR TER CABELO AFRO

Universitária desabafa sobre preconceito racial em sala de aula e vídeo se espalha pela internet. Depois de saber que colegas reclamaram do seu cabelo afro e sugeriram que ela cortasse as madeixas, jovem de 20 anos rebateu críticas e recitou poema contra o racismo

Aluna desabafa sobre preconceito racial na aula e vídeo viraliza na web

O desabafo contra o preconceito em relação ao cabelo afro feito por uma estudante de jornalismo de 20 anos está repercutindo nas redes sociais.

Moradora de Divinópolis (MG), Brunielly Keith discursou na sala de aula após ser alvo de críticas. Até o início da tarde desta sexta-feira, o vídeo (assista abaixo) com a resposta da universitária já contava com mais de 600 compartilhamentos.

O episódio aconteceu na última semana. Segundo Brunielly, ela havia faltado à aula quando uma amiga foi procurada por um grupo de colegas de sala.

“Ela estava sentada no intervalo, mexendo no celular, quando um grupo de quatro pessoas começou a falar do meu cabelo com ela. Era óbvio que ela ia me contar. Eram coisas do tipo ‘Ah, dá um toquinho nela que precisa passar um creme, cortar aquele cabelo, que ele não é bom’, várias críticas”, explica.

A estudante soube do caso na manhã seguinte, quando havia acabado de ler o poema “O meu cabelo não é ruim”, de Thiago Yuri, e achou que poderia usar aquelas palavras para conscientizar os colegas.

Como não teve aula na sexta-feira, ela resolveu abordar a situação na última segunda, 22 de fevereiro, quando o vídeo foi gravado por uma colega. “Foi quando eu pedi cinco minutinhos ao professor, antes do intervalo. Uma amiga minha filmou e postou no Facebook”, diz.

“Essas pessoas têm que escutar esse poema pra entender que o meu cabelo não é ruim. Que você, você, e você, todo mundo aqui, é da forma que tem que ser. Eu não preciso ser magra, não preciso ter o cabelo liso pra ser um padrão que eu sou bonita”, diz a estudante nas imagens gravadas dentro da sala de aula.

Brunielly conta que duas das pessoas envolvidas nos comentários estavam presentes no momento do discurso. “Eu consegui ver pouco a reação deles, mas ficaram bem envergonhados, pelo que os meus amigos me contaram”, diz.

Brunielly ficou incomodada com esse tipo de reação dentro do ambiente acadêmico. Ela está no 6º período do curso. “Uma turma de comunicação social, jornalistas são formadores de opinião. Que tipo de profissionais são esses que fazem esse tipo de injúria? Se a gente vê isso dentro da faculdade, o que será que está acontecendo nas escolas?”, questiona.

“O pessoal fala essas coisas sem pensar, e injúria racial é crime, não é brincadeira. A gente não pode falar sobre o outro julgando. É uma sala de comunicação. No mínimo o que se espera é mente aberta”.

A jovem ainda não sabe se vai denunciar o caso à Justiça. “É complicado porque não sou testemunha, minha amiga que viu”, comenta. “Eu acho que o vídeo por si só foi uma lição de moral”.
AFRO

Brunielly conta que assumiu o cabelo afro há quase dois anos e em outubro de 2015 criou um canal no Youtube voltado para pessoas que estão em transição capilar – processo de abandonar as químicas de alisamento para recuperar a estrutura natural dos fios – e que têm cabelo cacheado.

Ela conta que não é a primeira vez que foi alvo de comentários maldosos. “O que mais me marcou foi quando entrei em um ônibus e me sentei ao lado de uma senhora que disse que eu era bonita. Falou que eu tinha olhos bonitos, boca bonita, nariz bonito, mas que era uma pena eu ter esse cabelo. Na hora eu disse ‘A senhora me dá licença porque não vou sentar ao lado de uma pessoa preconceituosa’”.

Para as pessoas que enfrentam o mesmo tipo de situação, ela aconselha. “Não se calem jamais, nunca. Quem disser que o cabelo é ruim está mentindo. Que conceito é esse de cabelo ruim? Ruim é ter que escutar piadinhas sem graça todos os dias e ter que ficar calada. Não se cale”, diz.

Vídeo:
Cristiane Silva, EM

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