A MÍDIA TRADICIONAL E A CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA



Wallison Ulisses Silva dos Santos*, Pragmatismo Político

A crise econômica atual não é uma exclusividade daeconomia brasileira. Em 2008 a crise iniciou-se pelo setor imobiliário dos Estados Unidos, em poucos dias já havia atingido quase todos os países desenvolvidos, principalmente os integrantes da zona do euro. Neste mesmo período o Brasil apresentava indicadores socioeconômicos excelentes e que eram invejados pelos países Europeus e Norte-Americanos.

Muitos indicadores do Brasil entre os anos de 2008 e 2014 foram os melhores registrados na sua história ou pelo menos os melhores em décadas. Tomemos como exemplo a taxa Selic que em 2013 era de 7,12%, o menor valor registrado na série histórica do Banco Central. A inflação oscilou entre 4,31% e 6,50% que são valores altamente desejados para uma economia. A taxa de desemprego em 2014 foi de 4,8%, a menor registrada.

Estes são apenas alguns indicadores que mostram que enquanto os Estados Unidos e a Europaestavam assistindo a piora das suas economias e das condições sociais, o Brasil estava caminhando como se não houvesse crise mundial. A anomalia nesta história está exatamente na grande mídia destes países envolvidos em relação com o comportamento da grande mídia brasileira. 

Na Europa e nos Estados Unidos a mídia divulgava a crise, mas não alarmava e não buscava gerar pânico desenfreado na população. Em nosso país a imprensa anunciava que estávamos em uma crise econômica no ano de 2014, ano em que apresentávamos a menor taxa de desemprego, uma baixa taxa de juros e um PIB positivo (embora quase nulo).

Muitos podem questionar o que a imprensa tem a ver com a crise, que em 2015 realmente tornou-se verdadeira. A economia capitalista está intimamente ligada com a psicologia e as expectativas geradas. 

O economista Jonh M. Keynes já afirmava no século XX que as expectativas geradas em uma economia fazem os consumidores aumentarem ou diminuírem o seu consumo, sendo que o mesmo ocorre com os investimentos das empresas. Quando um político, grande empresário ou uma agência de risco fazem uma análise ou pronunciamento sobre um país esta consegue sair do plano abstrato e atingir a economia de bens e serviços.

Neste sentido a grande imprensa atuou de forma a gerar expectativas negativas desde 2008 quando os indicadores mostravam que era irracional falar de crise. Todavia as notícias “apocalípticas” produzidas todos os dias causaram pânicos nas famílias e nas micro e pequenas empresas que passaram a contrair seus consumos e adiar investimentos. A grande imprensa não noticiava uma crise econômica, mas fazia uma intensa propaganda para gerar uma crise que ela mesma desejava que viesse a existir.

*Wallison Ulisses Silva dos Santos é economista e mestre em economia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), professor de economia no Instituto Cuiabano de Educação (ICE) e colaborou para Pragmatismo Político

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