CUNHA ACHA QUE NÃO SERÁ PRESO E JÁ ARTICULA CONTRA O STF

Cunha trabalha com a hipótese de que será negado o pedido para o seu afastamento, formulado pela sociedade civil organizada, partidos políticos e até pela PGR, junto ao Supremo

Presidente da Câmara até que o Supremo Tribunal Federal (STF) vote por seu afastamento do cargo, conforme pede a Procuradoria Geral da República (PGR), o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não se dá por vencido, mesmo após a fragorosa derrota no julgamento que derrubou tudo o que ele e seu grupo armaram na tentativa de golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, constitucionalmente instituído nas eleições de 2014. A tentativa, agora, é de driblar a decisão do STF e somente retornar com a votação do processo de impeachment em um momento “mais adequado”, segundo admitiu a jornalistas o líder do Democratas (DEM), na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE).

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também negou que tenha recebido propina do banco

O ano legislativo terminará na quarta-feira, sem votação no Parlamento, conforme Cunha adiantou, em entrevista coletiva, concedida na noite passada. O novo calendário somente será definido a partir do dia 1º de fevereiro, no início do ano legislativo. Para a sessão de abertura, Cunha já teria combinado com Mendonça Filho que colocará em pauta um projeto de resolução, já apresentado pelo DEM, que incluirá no regimento interno da Câmara um dispositivo para que as chapas avulsas possam compor quaisquer comissões.

O STF, no julgamento do rito de impeachment, barrou exatamente esse ponto: o fato de a comissão que poderá aceitar o pedido de impedimento ser formada por uma chapa concorrente à indicada por líderes partidários.

— O plenário não pode ser cerceado de optar — “ disse o líder do DEM e autor da proposta.

O corpo jurídico da Câmara, no entanto, já avisa que, mesmo aprovado o projeto do DEM, trata-se de mais uma aventura do grupo de Cunha que poderá ser vetada no STF. Diante do novo panorama, Cunha pretende retomar o processo de impeachment somente em março, quando acredita que a situação econômica do país terá se degradado ainda mais.

O roteiro para retardar, até lá, o processo contra Dilma, passa por um embargo de declaração no STF. Com apoio da ultradireita, Cunha pedirá para que a Corte esclareça sua decisão e responda “o que deve ser feito caso a chapa à comissão especial for rejeitada pelo plenário da Câmara”. Assim, também busca ganhar mais tempo até a eleição, marcada para o início de fevereiro, do novo líder do PMDB na Casa. O grupo dissidente da legenda, com apoio do vice-presidente, Michel Temer, pretende que o deputado Leonardo Quintão (MG) reassuma o cargo e coloque na comissão do impeachment aqueles nomes que apoiam o afastamento de Dilma.
Cunha na cadeia

Cunha trabalha com a hipótese de que será negado o pedido para o seu afastamento, formulado pela sociedade civil organizada, partidos políticos e até pela PGR, junto ao Supremo. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no entanto reuniu indícios de que tanto Cunha quanto Michel Temer, também presidente do PMDB estão envolvidos em negócios ilíticios. Temer, segundo anotações de Cunha apreendidas pela Polícia Federal (PF), teria recebido R$ 5 milhões do presidente da OAS, José Adelmário Pinheiro, o Leo Pinheiro, um dos empreiteiros condenados no âmbito da Operação Lava Jato.

O suposto pagamento ilegal a Temer consta de uma das manifestações do ministro do STF Teori Zavascki, que fundamenta as buscas da Operação Catilinárias, realizada, na última terça-feira, em buscas nos imóveis de Cunha em Brasília e no Rio de Janeiro. A citação ao pagamento consta de uma troca de mensagens entre Pinheiro e Eduardo Cunha, na qual o deputado reclama que o empreiteiro pagou a Temer e deixou “inadvertidamente adiado” o repasse a outros líderes peemedebistas.

“Eduardo Cunha cobrou Leo Pinheiro por ter pago, de uma vez, para Michel Temer a quantia de R$ 5 milhões, tendo adiado os compromissos com a ‘turma'”, afirmou Janot, conforme a reprodução feita no documento assinado por Teori. Uma vez comprovado o desvio, Cunha poderá ser afastado e ter sua prisão preventiva pedida pelo juiz Sergio Moro, no Paraná.

Na sequência da troca de mensagens, via Whatsapp, Pinheiro pediu a Cunha “cuidado com a análise para não mostrar a quantidade de pagamentos dos amigos”. A conversa estava armazenada no celular do dono da OAS, apreendido em 2014.

Temer, em sua defesa, mostra o extrato de cinco doações da OAS ao PMDB declaradas à Justiça Eleitoral, entre maio e setembro de 2014, totalizando valor semelhante ao citado por Pinheiro: R$ 5,2 milhões.

O restante do processo segue em segredo de Justiça.

Postar um comentário

0 Comentários