DILMA VETA NOVO EMBAIXADOR DE ISRAEL

Tiroteio entre oposição e governo em Israel envolve o Brasil.

A indicação do chamado “chanceler dos colonos” para embaixador de Israel no Brasil, foi vetada pela presidente Dilma

A campanha contra a nomeação do israelense Dani Dayan para assumir a embaixada de Israel em Brasília, por ele ser um símbolo da colonização judaica na Cisjordânia, não começou no Brasil. A objeção ao novo embaixador, revelada em nome da presidente Dilma Rousseff, mas atribuída ao chanceler informal Marco Aurélio Garcia, foi pedida por três veteranos embaixadores israelenses ao embaixador do Brasil em Israel, Henrique Sardinha Pinto.

“Traição!” — grita-se em Israel. O ministro da Defesa, Moshe Ya’alon, escreveu em sua página no Facebook: “Esses cidadãos israelenses (os três ex-embaixadores e militantes de esquerda) perderam toda a vergonha (…) É por causa de atitudes assim que Israel vive sob ataque no mundo e sujeito a tentativas de deslegitimá-lo”.


Um dos “traidores”, antigo diretor-geral do Ministério de Relações Exteriores israelense, Alon Liel, disse à rádio das Forças Armadas, ao ser questionado por que foi fazer sua campanha contra a nomeação de Dayan direto no Brasil, e não em Israel:

“Se eu considerasse que meu campo político pudesse chegar ao poder, agiria aqui. Mas minha ideologia não tem chances em eleições num futuro próximo. Daí a decisão tomada. A solução de dois estados (um palestino, outro israelense) só será salva se apelarmos à comunidade internacional”.

Alon Liel, que foi embaixador na Turquia, e os ex-embaixadores de Israel na África do Sul, Ilan Baruch, e na França, Elie Barnavi, com apoio de militantes de esquerda e do ex-deputado do partido Meretz, Mossi Raz, encontraram-se com representantes da embaixada do Brasil e da Autoridade Palestina. Disseram-lhes, em resumo: “Aceitar a nomeação de Dani Dayan será o mesmo que dar legitimidade internacional à colonização (nos territórios ocupados da Cisjordânia)”. Até chamaram Dayan de “chanceler dos colonos”.

Nascido na Argentina, Dayan (nenhuma relação com o general Moshe Dayan) foi presidente do Yesha Council, acrônimo para Yehuda (Judeia), Shomrom (Samaria) e Aza (Gaza), nomes bíblicos usados para designar a Cisjordânia e Gaza, central dos conselhos municipais das colonias construídas nos territórios conquistados por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Ele próprio, secular, mora numa das colônias, em Maale Shomron.

Não só esbravejou o ministro da Defesa. O da Economia, Arye Dery, presidente do partido


ultraortodoxo Shas (Guardiães da Torá), propôs que “os esquerdistas sejam condenados”. Para ele, é por essas ações que a esquerda está cada vez mais distante do poder em Israel”. A deputada social-democrata Shelly Yachimovich, do Partido Trabalhista (pela Machane Hatzioni), ficou irritada ao ver gente de seu campo político agir com tamanha “baixeza” — e, pedindo desculpas, acrescentou: “idiotas”. Aos três ex-embaixadores, desafiou: 


“Por que vocês não moveram montanhas aqui? É inadmissível fazer isso através de um governo estrangeiro”. Para ela, Dayan é um nomeado de muito valor — uma das “mais inteligentes e tolerantes figuras públicas, exemplar por seu diálogo entre esquerda e direita”. Ainda arrematou: “Israel é governado pela direita, eleita democraticamente pelos eleitores israelenses, e assim designa seus embaixadores, alguns do corpo diplomático, outros não, como o fizeram governos anteriores”.

O líder da oposição Isaac Herzog, da União Sionista, e o presidente do partido Yesh Atid (Há Futuro), o jornalista Yair Lapid, renovaram o apoio à indicação de Dani Dayan ao embaixador brasileiro Henrique Sardinha Pinto. Eles acreditam que a nomeação ainda tenha futuro. O presidente da Knesset, o parlamento israelense, Yuli Edelstein, deixou claro que a candidatura à embaixada em Brasília se mantém “sólida” e que qualquer tentativa de desqualificá-la “deverá ser rejeitada”.


Dayan publicou artigo no The New York Times, em junho de 2014, propondo a derrubada de muros físicos e psicológicos que separam israelenses e palestinos. Explicou, na tradução de Rua Judaica: 

“A disputa territorial árabe-israelense é um jogo de soma zero, mas as considerações humanas não são. Não ganhamos nada com a humilhação ou a pobreza dos palestinos. Melhorar a qualidade de vida dos palestinos não conflitua com outros propostos endgames, como anexação da Judeia e da Samaria ou a fórmula de dois Estados.

 Nem as questões do status final serão alteradas: Os palestinos continuarão a votar nas eleições da Autoridade Palestina e os israelenses, nas eleições de Israel”, Ou seja: ao invés de dois estados, um só, binacional.
CORREIO DO BRASIL

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