O jornal Gazeta do Povo publicou nesta segunda-feira (30) uma entrevista com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Confira na íntegra:
Gleisi: "Se o governo do PR tivesse projetos, poderíamos ter feito mais" De saída da Casa Civil em janeiro, a ministra Gleisi Hoffmann começa a moldar o discurso para a disputa do governo do Paraná, em 2014. Mesmo sem oficializar a candidatura, a petista faz uma série de críticas à gestão Beto Richa (PSDB) e questiona as declarações de que a administração federal prejudica o estado. Para ela, o crescimento paranaense nos últimos anos se deve à política econômica dos governos Lula e Dilma Rousseff. "Talvez pudéssemos fazer mais, se nós não tivéssemos um vazio, um deserto de projetos e propostas no governo do Paraná", afirmou, em entrevista concedida no Palácio do Planalto, semana passada. Dura na avaliação do provável adversário eleitoral no próximo ano, Gleisi se emocionou ao falar dos episódios mais marcantes na passagem pelo ministério. A ministra chorou ao lembrar de uma visita que fez a uma unidade de saúde no Tatuquara, em Curitiba, para verificar o andamento do programa Mais Médicos. Direto ao ponto: já dá para chamar a sra. de candidata ao governo do Paraná? As eleições cabem a 2014. Portanto, é quando elas serão discutidas e as definições serão tomadas. Eu tenho várias manifestações favoráveis a eu ser candidata ao governo do Paraná, de lideranças no estado, de prefeitos, de partidos aliados. Mas essa é uma discussão que ainda vamos fazer no início do próximo ano. Ainda existe alguma possibilidade de não ser candidata e permanecer no ministério? A possibilidade maior é de eu sair do governo em janeiro. Isso não quer dizer necessariamente que eu saio para ser candidata. A avaliação sobre eu ser candidata ou não será feita no início do ano, com a participação de várias pessoas e partidos que participam da política paranaense. Então janeiro é mesmo a data-limite para a saída da Casa Civil? Sim, a presidenta pretende anunciar as mudanças ministeriais a partir de janeiro. Sem citá-la como candidata, qual é o desafio do PT na próxima eleição paranaense? Apresentar uma proposta de estado que seja factível, em termos de gestão do estado, de administração, e que isso tenha como objetivo a sustentação de um crescimento e de um desenvolvimento harmonioso do Paraná e de todas as suas regiões. O Paraná é um estado rico, de gente trabalhadora, com grande potencial. Infelizmente, o atual governo do estado não tem dado os estímulos necessários nem tem feito as concertações necessárias para ampliar esse potencial de desenvolvimento. E quais seriam essas concertações? Uma grande colaboração que o governo do estado poderia dar, em primeiro lugar, é pagar em dia seus fornecedores. Em segundo lugar, deveria estimular principalmente a micro e pequena empresa e rever sua política de substituição tributária. Em terceiro, enfrentar de vez a questão dos pedágios distorcidos e que tanto contribui para onerar a nossa produção. A justificativa do governo do estado para a questão do pagamento dos fornecedores passa pelo atraso na liberação de empréstimos que dependem do aval da União, o que sempre foi tratado como uma questão política e até de perseguição do governo federal. Qual é a sua visão sobre isso? Eu lamento que se tente justificar a incapacidade e a incompetência administrativa do governo estadual e do chefe do Executivo colocando a culpa em outras situações e outras pessoas. Os empréstimos do Paraná só não saíram porque o estado estava com pendências no Cadastro Único de Convênios da União e não respeitava a Lei de Responsabilidade Fiscal, já demonstrando uma desgovernança. Mas sempre ficou clara que essa era uma questão técnica? A sra. sabia dessas dificuldades ou ficou tudo restrito ao Tesouro Nacional? Tudo que dependia de nós para encaminhar os empréstimos foi feito. Inclusive esses processos, quando passaram pela Casa Civil, passaram de maneira muito rápida. Não ficou sequer um dia aqui antes de ser despachado. As discussões sobre os empréstimos foram técnicas. Faltou na realidade gestão financeira e administrativa para o estado.
O governo da presidenta Dilma tem se
pautado por ter uma administração republicana. Todos os estados
brasileiros são contemplados com recursos, programas, com os projetos
que o governo federal coloca à disposição da sociedade brasileira.
Fizemos um grande esforço para que o Paraná pudesse ser contemplado na
maioria desses programas.
E o estado foi contemplado com investimentos
em rodovias, nas BRs-153, 163 a 487, que são trechos com infraestrutura
finalizada. Vamos fazer a licitação da BR-163, de Cascavel a
Marmelândia. Finalizamos o contorno oeste de Cascavel. Em janeiro vamos
entregar o contorno de Maringá. Estamos fazendo um grande investimento
em mobilidade urbana em Curitiba.
Temos grandes investimentos para o
porto de Paranaguá, para os nossos aeroportos, em São José dos Pinhais,
no Bacacheri, em Foz do Iguaçu, em Londrina. O programa Minha Casa,
Minha Vida tem um dos maiores investimentos no Paraná.
Há entregas de
máquinas e equipamentos, reformas de unidades básicas de saúde de
unidades de pronto atendimento. Colocamos duas universidades no estado.
Ou seja, o governo federal tem feito grandes investimentos no Paraná.
Mas há muita reclamação sobre o volume de repasses e de investimentos diretos em relação a outros estados. Injustamente. Talvez pudéssemos fazer mais, se nós não tivéssemos um vazio, um deserto de projetos e propostas no governo do Paraná. Então o problema é esse, a falta de projetos? Com certeza. Há uma baixa iniciativa do governo do estado em relação à captação de recursos federais e de ampliação de programas e projetos. Até agora a campanha pelo governo do estado vem sendo travada nessa esfera, numa discussão sobre uma possível discriminação que o governo do estado promove contra o Paraná. Isso vai entrar no debate eleitoral para valer, no ano que vem? É difícil fazer uma avaliação de futuro. Eu espero que seja uma campanha que, quem quer que sejam os candidatos que participem, possa se pautar por um debate propositivo para o nosso estado. O Paraná é um estado muito pujante. Se tiver boas iniciativas e uma boa coordenação de governo, é um estado que pode despontar ainda mais no cenário nacional e internacional. A sra. recebe muitos pedidos e cobranças para ajudar de alguma forma o Paraná, apesar de a Casa Civil precisar se preocupar com os estados como um todo. Isso atrapalhou a sua gestão de alguma forma, foi algum tipo de incômodo? De maneira alguma. Recebo a todos aqui com muita boa vontade e com disposição de auxiliar, sejam paranaenses ou sejam representantes de outros estados. Penso que temos que dar respostas aos problemas diversos das unidades da federação. Isso tem a ver com o desenvolvimento do Brasil.
O Paraná é um estado que tem crescido muito.
Hoje mesmo [dia 19 de dezembro] vi uma matéria na Gazeta do Povo
mostrando que o Paraná teve o maior crescimento econômico entre os
estados. Até achei interessante a avaliação de alguns representantes do
governo do estado, que no meu entender chegam a ser despropositadas, de
que o Paraná cresce apesar da União, apesar de o governo federal estar
atrapalhando.
Eu diria que o Paraná só está crescendo no ritmo que está
crescendo graças à política econômica feita pelo governo federal. Quem
faz política econômica não é o governo do estado. Se a agricultura teve
esse desenvolvimento, é porque fizemos investimentos fundamentais. Hoje
nós financiamos a agricultura brasileira com juros subsidiados, de no
máximo 5,5% ao ano. Nós temos um programa de investimentos em máquinas e
equipamentos com juro de 3,5% ao ano.
E colocamos agora, no Plano Safra
2013/2014, um programa de financiamento de armazenagem também com juro
de 3,5% ao ano, três anos de carência e 15 anos para pagar.
O Paraná é o
estado que tem mais projetos em análise na área de agricultura no Banco
do Brasil e que mais liberou recursos até agora. Essa pujança da
agricultura, que é um dos fatores que levantam a economia paranaense,
tem a ver com uma política de estímulo a crédito e investimentos na
agricultura. Se nós formos olhar Mato Grosso, com certeza vai ter o
mesmo desempenho. O emprego está bom no Paraná porque está bom no
Brasil.
Nós temos a menor taxa de desemprego nacional da nossa história.
É óbvio que tudo isso tem reflexo no Paraná e se deve a uma política de
defesa da produção nacional e, principalmente, da indústria. Não
podemos esquecer que o Paraná recebeu três grandes empresas na área de
indústria automobilística, a Audi, a Volkswagem e a DAF Caminhões,
graças ao estímulo da desoneração de 30% no Imposto sobre Produtos
Industrializados. Aqui não tem estímulo do governo do estado. Portanto, a
política de proteção de emprego tem a ver com medidas nacionais e não
locais.
Então a sra. vê que o crescimento do Paraná não ocorre "apesar" do governo federal, mas "por causa" do governo federal, é isso? É por conta das políticas que estamos desenvolvendo de proteção do nosso emprego, da nossa renda, da nossa indústria e da produção agrícola. Eu poderia dizer que, a despeito do que o governo do Paraná está fazendo, nós crescemos. Porque nós temos no Paraná um pedágio caro, nós temos fornecedores sem receber e tivemos agora uma política de substituição tributária que praticamente afoga nossas pequenas e micro empresas. Tirando a polêmica sobre os empréstimos, como a sra. avalia a questão das dificuldades nas contas do estado? Com muita preocupação. Eu trabalhei no governo do Mato Grosso do Sul, fui secretária de estado lá. A economia deles é binária, baseada na produção de soja e boi. É um estado pouco industrializado e que, portanto, arrecada pouco. Mesmo assim nós conseguimos deixar em ordem as finanças, pagar as contas e estimular o desenvolvimento.
A economia paranaense é
diferente, é diversificada. Tem agricultura, grande, média e familiar,
tem indústria, comércio desenvolvido, um bom setor de serviços. Mesmo
assim, o governo do estado não consegue captar essa pujança para que a
gestão possa ser melhorada. Me preocupa muito. Mostra a falta de zelo, a
incompetência, a incapacidade administrativa do governo.
Como a sra. gostaria que sua passagem pela Casa Civil fosse lembrada? A minha intenção desde o início foi de ter uma atuação discreta, de auxiliar a presidenta na estruturação e no monitoramento dos programas. Foi uma gestão voltada para dentro do governo, que também foi o justamente o que a presidenta me solicitou à época. Portanto, eu espero que a minha colaboração nesse sentido tenha sido efetivada. A melhor forma de eu ser lembrada é como eu me propus a trabalhar aqui: de uma maneira discreta. A Casa Civil tinha antes um perfil mais político e quando a sra. entrou só falou em gestão. O foco foi esse. Para isso que eu me organizei junto com a equipe. Hoje a presidenta tem a condição de fazer entregas em quase todas as áreas em que ela se focou. Nós temos um monitoramento dos programas, sabemos os seus resultados, os problemas que ainda existem e o que eles estão trazendo de benefícios à população brasileira. A presidente Dilma é sempre citada como "mãe" do PAC. A senhora se sente um pouco "mãe" do pacote de concessões do governo federal, o Programa de Investimentos em Logística (PIL)? De maneira alguma. O projeto de concessões reuniu muitas áreas no governo. Coube à Casa Civil coordenar o trabalho nessas áreas, mas ele é resultado de um esforço muito grande, dos ministérios dos Transportes, da Fazenda, da Secretaria de Portos, da Secretaria de Aviação Civil. Muitas áreas gastaram muita energia com ele. Mas foi o programa que deu mais trabalho? Eu diria que foi o mais desafiador, pelo tamanho, pelo volume de recursos que estão sendo mobilizados e por ter vários modais sendo colocados ao mesmo tempo para serem concedidos. Orquestrar esse conjunto de órgãos federais, de fiscalização, de regulação e de mercado foi um grande desafio. As concessões são um sinal de que o PT e o governo reviram o seu conceito de relacionamento com o setor privado? Nós já tínhamos uma experiência no PAC, que também teve uma série de estímulos a parcerias público-privadas. A área de energia há muito tempo recebe investimentos por meio de concessões. O Estado brasileiro já tinha esse costume e continuou com essa proposta.
Nós agora
aprofundamos. Foi muito motivado porque precisávamos mobilizar um valor
maior de recursos e, principalmente, recursos vindos da iniciativa
privada para investimento. E também utilizar mais a capacidade gerencial
da iniciativa privada em desenvolver projetos. Esses foram os dois
grandes motivadores para que nós pudéssemos ampliar as parcerias nas
obras de infraestrutura.
A sra. está saindo da Casa Civil bem no momento em que as concessões começam a sair do papel, com a definição de vários leilões de rodovias e aeroportos. Ainda bem que estão se realizando. Para chegar nesse momento de realização e resultados, muitos esforços foram feitos. Nós trabalhamos nesse processo de concessão desde o final de 2011 e início de 2012, quando nós começamos a analisar e a integrar o Plano Nacional de Logística de Transporte com o Plano Nacional de Logística Portuária. O balanço é satisfatório? É. A iniciativa privada atendeu o chamado do governo e o modelo das concessões de aeroportos e rodovias mostraram-se modelos de sucesso. Conseguimos fazer as concessões, termos uma baixa tarifa, que era nossa preocupação maior, e termos investidores com vontade de investir, com retorno daquilo que colocaram. Os índios chegaram a fazer um enterro simbólico da sra. na frente do Congresso. Alguma coisa mudou na interpretação da sra. sobre demarcação de áreas indígenas? Este é um país que tem lugar para todos, para índios e para não índios. Nós já temos demarcados 120 milhões de hectares de terras indígenas. Isso era um débito que o Estado brasileiro tinha com essa população. O que nós precisamos agora é ter equilíbrio com essas demarcações. Nós não podemos hoje desalojar um pequeno agricultor ou uma comunidade quilombola para fazermos uma demarcação. Nós temos que chegar a uma mediação.
Todos têm direito a se estabelecer no território nacional.
Portanto, o direito de um não pode tirar o direito de outro. Estamos
falando de pessoas que estão cultivando a terra há mais de 80, 100 anos.
Nós precisamos mediar e isso não se faz só por demarcação. Talvez
tenhamos que partir para uma outra situação, que sejam assentamentos,
compra de terra, indenizações, tudo isso tem que ser estudado.
Agora,
para não termos injustiça, em qualquer processo fundiário, temos de
ouvir todos os atores envolvidos - a Fundação Nacional do Índio, os
representantes dos índios, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Ministério da
Agricultura, a Secretaria de Direitos Humanos. Quando todos podem
acompanhar e opinar sobre um processo, com certeza ele vai ser mais
justo e mais equilibrado no final.
Que balanço a sra. faz do episódio envolvendo o ex-assessor da Casa Civil Eduardo Gaievski (o ex-assessor foi preso em agosto por suspeita de estupro de menores e favorecimento de prostituição)? Ficou alguma lição? Foi um episódio muito triste. Lamentei muito pelo que aconteceu. Eu espero sinceramente que as coisas sejam devidamente esclarecidas e apuradas e as responsabilidades punidas. A sra. teme que esse caso seja utilizado durante a campanha para atingi-la? Isso já foi bastante utilizado, inclusive por perfis falsos nas redes sociais. Perfis até feitos e estimulados por servidores do governo do estado, o que eu lamento muito. Mas acho que a população sabe separar bem isso. Como foi o cotidiano do relacionamento com a presidente? Muito bom. Aprendi muito com a presidenta. Ela é uma pessoa firme, determinada, que faz cobrança por resultado. É uma grande gestora. Acho um privilégio para o nosso país ter uma mulher como ela na sua direção. Hoje temos programas com resultados grandes para a população brasileira. Temos certeza que estamos qualificando cada vez mais a máquina pública, a gestão pública, e a presidenta tem uma grande responsabilidade nisso. A presidente tem uma imagem para a população de alguém durona, que cobra muito. No dia a dia ela é assim mesmo? Ela cobra muito e tem que cobrar. Mas existe um mito sobre o comportamento da presidenta. Penso que isso é estimulado porque na administração pública as pessoas não estão acostumadas à cobrança de resultados. E nós temos que nos acostumar. Nós estamos fazendo gestão para o povo brasileiro, com dinheiro do povo brasileiro. Nós temos que dar resultado. O que mudou na Gleisi que chegou ao governo em 2011 para a Gleisi de hoje? Aprendi muito aqui. A conhecer o Brasil, os desafios, as necessidades, as diferenças que esse país tem em termos regionais, a importância das políticas públicas para o desenvolvimento e o equilíbrio do país. Com certeza eu saio outra pessoa. Com uma visão de maior responsabilidade em relação à gestão pública. Teve algum episódio que possa ser considerado como mais marcante nessa passagem pela Casa Civil? Todos os lançamentos de programa, de projetos, foram muito positivos. E principalmente quando a gente monitora os resultados.
Um dos programas
que eu mais gostei de participar e que me deram muito prazer pelo
resultado prático foi o Viver Sem Limites e o Mais Médicos. O Viver Sem
Limites é voltado à pessoa com deficiência e, pela primeira vez, o
Estado brasileiro mobilizou 15 órgãos para ter uma política pública
efetivada para esse setor da sociedade. Era um débito que nós tínhamos.
E
o Mais Médicos pelo conjunto que tem para o conjunto da população. Eu
fiz questão de visitar uma unidade de saúde em Curitiba, no Tatuquara,
para saber como na prática estava sendo um programa que estávamos
começando a discutir em 2012.
Foi emocionante ver a população dizer: o
médico me atende [nesse momento da entrevista, Gleisi começa a chorar].
Eu acho que isso é dar resultado às pessoas. .
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Eu estava contemplando o vasto horizonte do oceano Atlântico, enquanto orava devido à alta taxa de desemprego causada pela pandemia do Covid-19. Muitas pessoas estavam perdendo seus empregos, casas e empresas, e estavam à beira da ruína financeira. As previsões eram de que, devido à injustiça social, a recuperação financeira seria especialmente difícil para as populações minoritárias dos negros, latinos e povos indígenas. Sendo eu uma mulher negra, superei barreiras e venho orando por outras pessoas para que também superem suas dificuldades. A confiança em Deus sempre foi minha rocha.
Observando o oceano, notei que o vento causava fortes ondas, sobre as quais flutuavam muitas gaivotas. Essas aves boiavam tranquilamente nas águas e continuavam buscando comida, mesmo após a arrebentação das ondas na orla da praia. Duas pessoas se aproximaram trazendo sacolas de comida para aves. As gaivotas voaram alvoroçadamente para perto delas, grasnando. Algumas, sem medo, comeram diretamente das mãos daquelas pessoas.
Ao contemplar aquela cena, lembrei-me da história bíblica de Jesus, o mestre Cristão, alimentando cinco mil pessoas com cinco pães de cevada e dois peixinhos (ver João 6:5–13). E tive a confiança de saber que realmente existe emprego e suprimento suficiente para todos. Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã e autora do livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, era uma devota seguidora de Jesus. Ela diz em seu livro Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896: “Nunca peças para amanhã; é suficiente o fato de que o Amor divino é uma ajuda sempre presente; e se esperares, jamais duvidando, terás todo o necessário, a cada momento. Que maravilhosa herança recebemos ao compreender o Amor onipresente! Mais, não podemos pedir; mais, não queremos; mais, não podemos ter. A doce certeza desse fato é o 'Acalma-te, emudece' para todos os temores humanos, para todo tipo de sofrimento” (p. 307).
Ao comparecer à entrevista, leve com você a firme convicção de que você já está empregado por Deus.
De acordo com os ensinamentos da Ciência Cristã, quando colocamos a Deus em primeiro lugar em nossa vida, percebemos como nos beneficiar das bênçãos concedidas por Deus. Essa Ciência nos assegura de que no universo de Deus há suficiente trabalho bem recompensado para todos, independentemente das circunstâncias. E uma das recomendações importantes que Cristo Jesus várias vezes repetia para os que buscavam ajuda era: “Não temais”.
Acalmar o medo pode não ser fácil quando ficamos desempregados, recebemos nosso último salário ou a última parcela do seguro-desemprego, e não temos dinheiro suficiente para pagar as contas ou comprar comida. O medo tenta nos convencer de que existe um poder além de Deus, e também que disputamos com os outros o nosso sustento. Ou ainda, que desigualdades e privilégios raciais e de gênero podem nos atrapalhar.
No entanto, Jesus sabia que, qualquer que fosse o problema, aqueles que confiam em Deus, o Amor onipotente, não necessitam temer, pois o Amor nunca falha. Para o Amor divino, nunca pode haver oportunidade limitada, e o Amor jamais pode perder a capacidade de suprir a humanidade com o trabalho gratificante de que esta necessita. Para a Mente divina, Deus, tudo está sempre certo, exatamente agora! Um vislumbre dessa verdade espiritual nos dá os meios de prover o que nossa família necessita. A vida de Jesus nos ajuda a compreender que, se nos empenharmos em pensar e agir corretamente, toda e qualquer necessidade será atendida.
O correto pensar e o correto agir propiciam segurança. O pensar correto, espiritual, nos permite reconhecer a bondade e o poder de Deus em todas as situações. A ação correta se apoia nessa verdade espiritual para dar provas da bondade e do poder de Deus em nossa vida. Para romper com o cenário mesmérico da desigualdade racial e de gênero, podemos orar para reconhecer e compreender que Deus, o Amor, abre para todos as portas à oportunidade e ao progresso.
Quando me formei em Administração de Empresas e comecei a procurar trabalho na minha área de estudos, não havia oportunidades de emprego para mim. Durante meses, todas as minhas entrevistas de trabalho e as respostas negativas que recebia terminavam assim: “Estamos procurando candidatos com experiência”. No entanto, os periódicos da Ciência Cristã que eu vinha lendo havia alguns anos falavam constantemente de um amoroso Pai-Mãe Deus que não reconhece barreiras ou preconceitos raciais, nem outros obstáculos. Então, com base nessas ideias, perseverei e consegui um trabalho temporário de quatro meses, que durou cerca de um ano, em um escritório do governo federal.
Nesse emprego, conheci uma Cientista Cristã que convidou minha família a frequentar as reuniões de testemunho das quartas-feiras, os cultos dos domingos e a Escola Dominical da Ciência Cristã em uma Igreja de Cristo, Cientista localizada no nosso bairro de classe menos favorecida. Quando falei para minha amiga que meu contrato estava para acabar em duas semanas, ela, percebendo meu receio, compartilhou comigo este versículo bíblico, para me encorajar: “...Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel” (Isaías 41:10). Esse versículo foi uma luz para mim. Vários dias antes de meu contrato terminar, encontrei outro emprego temporário. Depois de meses no novo trabalho, a gerência de recursos humanos, ao saber que eu havia sido aprovada, anos antes, no exame de função pública federal, me efetivou como profissional na minha área de formação acadêmica.
As leis divinas do bem são constantes, confiáveis e estáveis. A lei divina de atração coordena apropriadamente as capacidades e oportunidades, de modo a beneficiar a todos os envolvidos. Deus está ao alcance de todos nós, independentemente das estatísticas. A oração científica cristã revoga as dificuldades oriundas de raça, gênero, idade, tradições religiosas, ancestralidade, costumes e nacionalidade. Conforme escreve o apóstolo Paulo: “Porque não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga; mas para que haja igualdade, suprindo a vossa abundância, no presente, a falta daqueles, de modo que a abundância daqueles venha a suprir a vossa falta, e, assim, haja igualdade...” (2 Coríntios 8:13, 14).
Hoje em dia, com o rápido avanço da tecnologia, as empresas estão se ajustando a novos modos operacionais. E as pessoas estão demonstrando que suas habilidades podem ser transferidas para outras áreas de trabalho. Algumas estão se tornando cuidadoras para pessoas da família e amigos, enquanto outras estão descobrindo novos talentos e estabelecendo novos objetivos. Deus classifica individualmente cada um de nós, Seus filhos e filhas, de acordo com Seu plano de atividade perpétua. Em seu livro The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Outros Escritos], Mary Baker Eddy explica: “Minha fé em Deus e em Seus seguidores se apoia na verdade de que Ele é o infinito bem, e que Ele dá aos Seus seguidores a oportunidade de usar as virtudes ocultas que possuem, para colocarem em prática o poder que está escondido na calma, o qual as tempestades despertam para o vigor e para a vitória” (p. 204).
Um fator decisivo quando estamos procurando emprego é estabelecermos em nossos pensamentos a verdade espiritualmente científica de que Deus é o nosso empregador e de que já estamos empregados. Mesmo quando aparentemente não temos emprego, nosso verdadeiro trabalho é expressar as qualidades do Pai-Mãe Deus em tudo o que fazemos. Falando cientificamente, o único emprego que você tem é o emprego que Deus faz de você. Mesmo quando você está se sentindo seguro em um trabalho gratificante.
Quando eu estava recrutando empregados para uma companhia, aprendi bastante sobre produtivas entrevistas de trabalho. Ao comparecer à entrevista, virtualmente ou em pessoa, leve com você a firme convicção de que você já está empregado por Deus, o Amor divino. Seus motivos puros transparecerão. Faça da entrevista uma parte do seu verdadeiro trabalho. Você pode orar para estabelecer um calmo discernimento quanto ao que está sendo comunicado. Compareça apoiado no pensamento de que você é o reflexo de Deus, a Mente divina, e portanto, expressa desenvoltura, integridade, inteligência, originalidade, ponderação, consideração, precisão, criatividade e alegria. Deus é o Amor, e você expressa o amor pleno de graça que identifica você como uma ideia inteligente do Amor.
O medo, a ignorância e o pecado, que são os adversários do emprego e do suprimento, têm de desaparecer ante a nossa compreensão de que Deus é a Verdade, a Vida e o Amor. A verdade é que não existe situação alguma que possa frustrar as leis de Deus, imutáveis e sempre em atividade. Qualquer que seja a necessidade, podemos derrotar as crenças malignas que bloqueariam o fluxo de inspiração e realização que Deus provê para que tenhamos emprego e suprimento.
Não importa de onde você venha, nem o que esteja à sua volta, ou o que você tenha ou não tenha, você não necessita ter medo. Apenas o bem é conclusivo e final. Todos podemos aprender a ser profetas e a ver “espiritualmente” (ver Ciência e Saúde, p.593), na medida em que começarmos a olhar cada circunstância à luz do senso espiritual, onde o bem é sempre supremo. Orando e confiando no fato de que o Amor divino supre amplamente a todos, percebemos que nossa verdadeira razão de viver é glorificar a Deus, o bem infinito.
Do Arauto da Ciência Cristã
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