MULHER QUE AJUDOU CORONEL DA PM A ESTUPRAR CRIANÇA DE 2 ANOS É PRESA

Coronel da PM Pedro Chavarry foi flagrado com uma criança de apenas dois anos, nua, em seu carro. 
A menina chorava muito. Policial dava dinheiro a mulheres que conseguiam crianças para "darem uma volta" com ele. Por 33 anos, Chavarry molestou várias crianças e bebês, e nada disso impediu a sua ascensão na hierarquia da Polícia

Pedro Chavarry


Policiais prenderam nesta quinta-feira (9) Thuanne Pimenta dos Santos, condenada pelo crime de estupro de vulnerável. A mulher, capturada na casa de parentes na comunidade Uga Uga, no Rio de Janeiro, foi acusada de ter enganado o pai de uma criança estuprada pelo o coronel reformado Pedro Chavarry, em 2016.

Chavarry foi preso em flagrante ao ter sido flagrado com uma criança de apenas dois anos, nua, em seu carro. A menina chorava muito. Segundo as investigações, Thuanne foi a responsável pro enganar o pai da menina, dizendo que a levaria para uma sessão de fotos vestida de Papai Noel. No entanto, entregou a criança para o coronel e recebeu um pagamento por isso. Chavarry foi condenado a 11 anos por ter estuprado a menina.

No dia da prisão de Chavarry, ainda de acordo com as investigações, Thuanne foi até a casa dos pais da criança e solicitou a certidão de nascimento da menina, afirmando que precisava do documento para registrá-la em uma ONG. A acusada entregou o documento para os policiais militares que prenderam o coronel.

Testemunhas relataram à polícia, que Thuanne afirmava na comunidade onde morava que Chavarry ajudaria financeiramente as mães que deixassem as crianças “darem uma volta”com ele. Thuanne chegou a ser presa pelo crime, mas conseguiu liberdade. Ao ser condenada, foi decretada sua prisão. Ela estava foragida desde então.

Infâncias roubadas

Um chorinho de bebê chamou a atenção dos vizinhos ao redor de uma casa em Bangu. Era manhã de 18 de março de 1983. Por uma fresta uma mulher viu que, de fato, uma criança estava sozinha deitada no chão de uma casa vazia que pertencia ao coronel Pedro Chavarry Duarte. Ao redor, o mato alto já incomodava os vizinhos há tempos. Ao ver a criança, decidiram entrar e lá encontraram uma menina nua, suja e já cheia de formigas que vinham dos cantos da casa. Horas depois, Chavarry seria surpreendido chegando na casa onde a bebê, uma menina de três meses, estava sozinha. Esse foi o primeiro momento em que o coronel foi flagrado com um bebê. Depois disso, por 33 anos, ele molestou várias crianças.

A trajetória de Chavarry e as histórias de alguns de seus crimes foram reunidas no livro “O coronel que raptava infâncias” de Matheus de Moura, editado pela Intrínseca, e lançado nos últimos dias. Segundo Moura, existem ao menos oito casos citados nas investigações desde 1993.

“Ele foi flagrado com abandono de menor nos anos 1990. Nos meandros da PM, havia desde os anos 2000 a frase ‘ah, o Chavarry a gente deixa’. Sabia-se pelo menos que ele tinha uma relação estranha com crianças, mas, ainda assim, deixaram ele passar livre, muito pelo capital social que foi acumulando, ao alinhar-se com membros do alto comando, da igreja católica e da política carioca”, contou o autor.

Chavarry chegou a ser condenado em primeira instância pelo caso em 1993, mas depois, em segundo grau, a sentença foi reformada e ele foi absolvido, em 1994.

Ao ver a notícia do caso em que o coronel foi flagrado em 2016, Moura, ainda estudante de jornalismo, decidiu investigar o caso. Em seu livro, é possível conhecer um pouco das origens e da família do militar e entender um pouco da construção psicológica dele. A narrativa percorre as origens bascas da sua família e um desempenho escolar pífio de Chavarry.


Chavarry cresceu em uma família humilde no Rio de Janeiro, nos arredores da Avenida dos Democráticos, em Bonsucesso, na Zona Norte, da capital. Ele chegou a ser coroinha da Paróquia Nossa Senhora do Bonsucesso na infância e depois seguiu carreira na Polícia Militar. “A maior influência, muito provavelmente, foi no desenvolvimento de uma moralidade hipócrita cristã”, contou Moura.

Para entender em profundidade, Moura resgatou os primeiros processos a que Chavarry respondeu e também reuniu mais de vinte e cinco horas de entrevistas que contam a sua escalada profissional, marcada por ações que, em tese, eram pautadas por bandeiras de assistência social.

Chavarry escolhia crianças muito pequenas, ainda na primeira infância, e com um perfil semelhante: todas oriundas de famílias em condições de extrema pobreza. Ele se apresentava como uma figura de reputação inquestionável. Era um homem branco, rico e benquisto dentro da corporação militar. Assim, Chavarry encontrava suas vítimas em comunidades carentes do Rio de Janeiro, lugares onde o poder público não tem interesse.

Mulheres com filhos pequenos, às vezes recém-nascidos, o procuravam por indicações de que ele poderia ajudá-las a trabalhar e conseguir assistência financeira e, acima de tudo, alguém para cuidar de suas crianças em uma suposta creche. Jamais se descobriu, no entanto, o endereço dessa instituição.

Quando Chavarry colocava as crianças em seus carros de luxo alugados, custeados com dinheiro público, as mães não sabiam para onde elas eram levadas ou o que acontecia durante as muitas horas de ausência. Até a noite em que uma atendente de lanchonete, moradora da comunidade Uga-Uga, se deparou com a insólita cena no estacionamento do posto de gasolina, em setembro de 2016.

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