POR QUE LULA?

Por mais que alguns tentem levantar motivos éticos e a necessidade de alternância no poder para questionarem a candidatura de Lula, não me parece que nesse caso sejam alegações razoáveis. Porque teremos duas questões contraditórias

Imagem: Ricardo Stuckert | Fotos Públicas


Anderson Pires*

As próximas eleições presidenciais caminham para a polarização entre Lula e Bolsonaro. Apesar de muitas pessoas afirmarem que gostariam de outras alternativas para votar, os que têm se proposto a isso não conseguiram adesão a ponto de mexerem no cenário eleitoral.

As últimas pesquisas apontam para o favoritismo de Lula com possibilidade de vitória no primeiro turno. Porém, nesse bolo existem pessoas que se qualificam como democratas, com tendências que vão da direita a esquerda, que, costumeiramente, dizem que votarão por falta de opção. Afirmam que querem mudar a situação, mas farão por eliminação. Em outras palavras, constroem o discurso para justificativas futuras e, assim, mantém a postura de “isentões”.

Alguns chegam a apontar quem seria o candidato ideal. Aquele que votariam com prazer. Geralmente, idealizam com base em pequenas ações ou posicionamentos políticos localizados que em nada diferem do que Lula defende, mas com a vantagem que não precisarão debater questões éticas ou confrontar o ativismo judicial que o ex-presidente foi vítima em decorrência da Lava Jato.

É a velha lógica de que sou progressista ou de esquerda, mas não estou disposto a confrontar setores da elite que afirmam ser a corrupção o maior mal do país e que o Lulopetismo implantou a ladroagem institucionalizada. Afinal, votar para tirar Bolsonaro já é uma justificativa bastante forte, querer debater Estado de Direito e princípios democráticos seria pedir demais.

Mas aí está o cerne do que representa a próxima eleição no Brasil. Não será uma mera mudança de quem ocupa o cargo político mais importante do país. Existe um embate ainda mais relevante que estabelecerá qual o modelo de Estado que teremos. Vamos manter o controle de viés moralista, que garante o poder quase que absoluto das elites ou iremos dar uma resposta clara de que a democracia brasileira não pode estar sujeita a vontades e convicções? Independente do grau de justiça social e a quem serve, o Estado de Direito é o mínimo que temos para garantir que manipulações e golpes não sejam práticas recorrentes.

Por mais que alguns tentem levantar motivos éticos e a necessidade de alternância no poder para questionarem a candidatura de Lula, não me parece que nesse caso sejam alegações razoáveis. Porque teremos duas questões contraditórias. Lula teve as condenações e dezenove processos anulados por vícios e falta de provas. Logo, quem se diz defensor da democracia e do Estado de Direito jamais poderá usar a ética como justificativa para não votar com convicção. No que diz respeito a alternância de poder, devemos lembrar que o PT foi retirado por intermédio de um golpe, pelos que desrespeitaram a Constituição e grupos de comunicação que construíram uma versão para a farsa do impeachment de Dilma.

O processo eleitoral será necessariamente um momento de resgate. Para tanto, nenhum outro candidato terá mais legitimidade para tratar dessas questões centrais relativas à democracia no Brasil que Lula. Enfrentar o ativismo judicial, a apropriação do Estado por setores da elite e reestabelecer a representatividade popular são pontos cruciais para o país retornar ao rumo que estabeleceu pelas vias eleitorais em 2002 e que foi rompido por intermédio de um golpe.

No que diz respeito ao combate a desigualdade social, por mais que existam outros candidatos que atribuam o problema ao modelo de gestão da economia brasileira não parecem legítimos. Como exemplo, temos Ciro Gomes que tenta isentar-se, apesar de ser integrante das elites e, de alguma forma, esteve sempre presente nos governos ou no papel de gênio póstumo.

O porquê de Lula ser a única alternativa que atende a essa necessidade de reparo histórico e democrático parece óbvio. O Brasil precisa passar a limpo esse período de desrespeito aos direitos fundamentais e flerte com o fascismo. Não vejo em nenhuma das outras alternativas qualquer um que tenha legitimidade, popularidade e, principalmente, não fez parte de nenhum desses eventos que proporcionaram um golpe a democracia e a eleição de Bolsonaro.

Todos os demais candidatos à presidência que reivindicam o título de terceira via padecem de pecados originais. Dividem-se entre apoiadores arrependidos de Bolsonaro, promotores do golpe do impeachment à Dilma, propagadores do discurso “a culpa é do PT”, até aqueles que fugiram para França. Os motivos para votar em Lula com convicção e compromisso democrático são mais que evidentes. Fora isso, sinto dizer que as passagens para fora do país estão nas alturas e só devem baixar após outubro de 2022.

*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário, cozinheiro e autor do Termômetro da Política.

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