AOS 71 ANOS, APOSENTADA SUPERA ANALFABETISMO E INCENTIVA COLEGAS A ESTUDAR

Aluna da EJA

Normália de Souza dos Anjos, aluna do EJA da Escola Municipal Bela
Vista do Paraíso. Curitiba, 25/05/2018 - Foto: Valdecir Galor/SMCS

“Fui uma pessoa cega que passou a enxergar depois das aulas da Educação de Jovens e Adultos (EJA)", conta, com orgulho, a aposentada Normália de Souza dos Santos, de 71 anos. Nascida em Contendas do Sincorá, no interior da Bahia, a mãe de sete filhos emocionou os colegas com a biografia escrita durante uma das atividades promovidas na Escola Municipal Bela Vista da Paraíso, no Santa Cândida. “Quem não sabe ler tem olhos, mas não enxerga”, definiu.

A história de dona Normália se assemelha a de centenas de mulheres que precisaram abdicar dos estudos para atender aos interesses das famílias. A infância foi curta, ela começou a trabalhar aos 7 anos na roça e precisou superar inúmeros desafios que, durante mais de cinco décadas, a impediram de frequentar a escola.

Trabalhou como diarista, empregada doméstica e auxiliar em serviços gerais e, somente aos 66 anos, depois de aposentada, pode iniciar a trajetória escolar e realizar o sonho de aprender a ler e escrever. “Agradeço a Deus e às professoras que são bênçãos que Deus colocou no meu caminho”, diz Normália.

Olhos da fé

As aulas, à noite, são dinâmicas e planejadas para atender as necessidades da turma, formada por 25 homens e mulheres com experiências de vida parecidas. “Na EJA comecei a enxergar com os olhos da carne, antes eu via apenas com os olhos da fé. Agora eu não perco mais o ônibus nenhum por não saber ler”, comemora a aposentada.

A autonomia para circular pela cidade só não foi maior do que outra conquista, considerada a melhor de todas, segundo Normália. “Via as pessoas abrindo as bíblias na igreja e lendo e eu sonhava poder fazer igual. Hoje eu consigo, leio e entendo os versículos e isso é maravilhoso”, conta.

Outra alegria da dedicada estudante é ler e escrever versos e causos sobre o que já viveu, especialmente quando é para os 12 netos e cinco bisnetos. Os sete filhos são formados e todos estudaram na escola onde a mãe hoje é aluna. Foram eles que incentivaram Normália a encarar o desafio, especialmente Maria Cristina, professora na escola. “Minha mãe sempre foi exemplo e alicerce da minha vida. Abriu mão dos sonhos dela para que eu e meus irmão pudéssemos realizar os nossos. Eu alcancei o meu, me tornei professora”, diz Maria Cristina.

100% de frequência

A professora da dona Normália, Iolanda de Lourdes Porto, conta que a estudante é muito dedicada e participativa em sala de aula. "Ela tem cem por cento de frequência, é muito jovial e estudiosa", garante Iolanda. "A disciplina preferida é matemática, mas também adora declamar poesias", revela.

Normália é admirada por todos os colegas e funcionários da escola. "Ela traz flores, frutas e até capim cidreira para o chá. É muito querida", diz. 

Trajetória escolar

A Educação de Jovens e Adultos é uma oportunidade de início ou recomeço da trajetória escolar para aqueles que não puderam estudar na idade adequada.

Atualmente, 53 escolas municipais ofertam turmas na modalidade EJA Fase I (1º ao 5º ano) e atendem a 1.400 estudantes. Em seis delas, os estudantes podem usar as salas de acolhimento, espaços onde filhos e netos podem ficar enquanto os pais ou avós estudam. As crianças são cuidadas por profissionais da educação e envolvidas em atividades de lazer.

As matrículas nas turmas da EJA podem ser feitas em qualquer período do ano. Interessados devem procurar a escola mais próxima de casa para orientação ou o Núcleo Regional de Ensino. Na matrícula, feita na escola, o aluno deve apresentar documento de identidade, comprovante de residência e histórico escolar, de tiver.

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