MP pede afastamento de Derosso da presidência da Câmara

Ação proposta nesta quinta-feira também pede o bloqueio dos bens do vereador e a devolução de R$ 5,966 milhões aos cofres públicos

O Ministério Púbico do Paraná (MP-PR) propôs, nesta quinta-feira (17), uma ação de improbidade administrativa contra o presidente da Câmara de Curitiba, João Cláudio Derosso (PSDB), pedindo o afastamento do vereador e o bloqueio dos bens dele. Os motivos são irregularidades na contratação da empresa Oficina da Notícia, que teria prestado serviços de publicidade para a Casa.

A jornalista Cláudia Queiroz Guedes, mulher de Derosso e proprietária da empresa, e outros quatro integrantes da Comissão de Licitação da Casa também são citados na ação que pede a devolução de R$ 5,966 milhões aos cofres públicos.

Afastamento

Segundo o MP-PR, o afastamento cautelar de Derosso das funções públicas na administração da Câmara é necessário para que o presidente da Câmara não continue desempenhando as atividades pelas quais está sendo investigado. Além disso, a ação diz que Derosso poderia intimidar, ainda que indiretamente, as testemunhas do processo. Outra justificativa seria a “ameaça de que o Poder Legislativo Municipal seja conduzido ao descrédito”.

A solicitação da indisponibilidade dos bens é justificada como medida cautelar pelo fato de o ato de improbidade administrativa, na avaliação do MP, causar lesão ao patrimônio público ou enriquecimento ilícito.

Irregularidades

De acordo com a ação, o edital de licitação para a contratação de uma empresa de publicidade foi autorizado no dia 30 de janeiro de 2006 e foi “publicado tão somente no Diário Oficial do Município e no Jornal Diário Popular, ambos em data de 23 de fevereiro de 2006, não havendo publicação no Diário Oficial do Estado”, como estabelece a lei.

O jornal, que não existe mais, tinha circulação essencialmente municipal e baixa tiragem na avaliação do MP-PR, fato que desrespeita a lei 8.666/93, que determina a publicação em jornal “diário de grande circulação no Estado”. Ainda segundo o MP-PR, em outras ocasiões a Câmara adotou as medidas cabíveis.

A ação ainda questiona o fato de outras empresas não terem se interessado pela concorrência e cita outros contratos firmados por órgão públicos para a prestação de serviços similares que atraíram interesse de várias empresas. Para o MP-PR, houve “ausência de vontade da administração da Câmara em trazer a público o edital, ao que parece objetivando satisfazer interesses particulares”.

Com isso, o contrato com a antiga prestadora do serviço, a empresa Visão Publicidade, que já prestava serviços à Câmara desde 1998, foi renovado e a empresa Oficina da Notícia, de propriedade de Cláudia, foi contratada quando esta era funcionária comissionada e mantido quando, posteriormente, ela se tornou esposa do presidente da Câmara.

Ainda na ação consta que Washington Luiz Moreno, presidente da comissão de licitação, teria dito, em audiência, que, após elaborado o edital para a contratação de uma empresa que prestaria os serviços de publicidade da Câmara, partiu de Derosso a decisão de contratar duas empresas.

O contrato previa, para os meses de maio a dezembro de 2006, o gasto de R$ 5,2 milhões ou R$ 650 mil por mês que seria dividido entre as duas empresas conforme a divisão de serviços. A forma de divisão dos trabalhos e valores não consta no edital e nem no contrato, segundo a ação proposta.

Aditivos

O MP-PR ainda esclarece que o contrato inicialmente firmado com as empresas Visão e Oficina da Notícia, assinado em maio de 2006 sofreu dois aditivos. O primeiro deles em maio de 2008, devidamente publicado no Diário Oficial de Curitiba, que estendia o contrato por mais doze meses. O segundo aditivo foi assinado em maio de 2009, prorrogando o contrato por mais 24 meses. Os aditivos foram autorizados e firmados pelo presidente da Câmara Municipal, o vereador João Claudio Derosso.

Na data da prorrogação dos contratos, Claudia não fazia mais fazer parte do quadro de servidores da Câmara Municipal de Curitiba, mas já mantinha com Derosso um relacionamento íntimo de afeto.

Os membros da Comissão de Licitação Washington Luiz Moreno, Airton Luiz Bonacif Borges, Maria Angélica Bellani Martins e Priscilla de Sá e Benevides Carneiro, também são citados na ação. Para o MP-PR, eles “deixaram de verificar, através da documentação apresentada, que uma das empresas participantes da licitação tinha como proprietária servidora comissionada da Câmara Municipal de Curitiba”.
Por Vitor Geron e Karlos Kohlbach
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