PROFESSOR DA UnB DIZ QUE SOFRIA ASSÉDIO DA JOVEM QUE SE SUICIDOU

Procurador e professor da UnB nega perseguição e alega que a verdadeira vítima de assédio era ele. Ariadne Wojcik, 25 anos, fez um longo post no Facebook antes de morrer. Caso gerou comoção nas redes sociais. Reitor da universidade e médico que atendeu a jovem também se pronunciaram

O procurador Rafael dos Santos e Ariadne. Polícia está quase certa de que causa da morte da jovem de 25 anos foi suicídio


O professor da Universidade de Brasília (UnB) e procurador do Distrito Federal Rafael dos Santos, acusado de assediar a ex-estudante de direito, Ariadne Wojcik, encontrada morta na tarde desta quarta-feira (9/11) em Mato Grosso, negou as acusações. De acordo com o advogado, ele era alvo de perseguição da jovem.

Segundo o procurador, um documento que provaria a inocência dele já havia sido elaborado, na intenção de protegê-lo de qualquer acusação. A intenção de Rafael era entregar a ocorrência à Reitoria da UnB, mas, de acordo com ele, para não prejudicar a carreira da moça, desistiu de enviar o dossiê às autoridades.

Rafael dos Santos disse que não tinha qualquer contato com a jovem desde agosto último. As informações são dos jornais de Brasília Correio Braziliense e Metrópoles, que conversaram com o acusado.

O procurador mostrou algumas conversas supostamente atribuídas à jovem. Nas conversas, via WhatsApp e e-mails, Ariadne acusa o professor de instalar escutas e câmeras em sua casa, além de colocar aplicativos espiões no computador e celular dela. O professor responde a mensagem negando todas as acusações.

O contato do professor com a moça teria começado durante as aulas de direito tributário na UnB. Após o fim do semestre, Ariadne pediu um estágio ao professor.

“Ela era uma ótima aluna”, disse Rafael. A estudante decidiu sair em abril do estágio, porque achou seria melhor para os dois. Desde então, eles não teriam mais se encontrado pessoalmente, mas trocaram alguns e-mails para falar sobre a monografia que a jovem estava produzindo.

Apesar de mostrar os e-mails e mensagens de WhatsApp, o procurador não permitiu que eles fossem reproduzidos pelas reportagens. Rafael conta que queria se afastar de Ariadne e que havia bloqueado a jovem no WhatsApp, mas continuava sendo perseguido pela moça.

Ao ser questionado sobre ter um relacionamento extra-conjugal com a jovem, o professor disse à reportagem do Correio Braziliense que não gostaria de falar sobre o assunto.
Depressão

Um psiquiatra que atendeu Ariadne revelou que ela sofria de depressão.

Segundo a polícia, dentro da bolsa da jovem, encontrada junto ao corpo, havia um cartão com o número do telefone de um psiquiatra do Distrito Federal, cujo nome não foi divulgado. Os policiais entraram em contato com o profissional, que confirmou ter atendido Ariadne.

O psiquiatra, de acordo com a polícia, disse que foi diagnosticado um quadro de depressão profunda na jovem.

Ele contou que receitou um tratamento à advogada, mas ela se recusou e preferiu se mudar para Cuiabá (MT), onde tem familiares e foi aprovada em concurso para o Tribunal de Justiça.

O celular e o computador de Ariadne serão periciados
Reitor da UnB

“As mulheres do Brasil têm o direito de não sentir medo”. Essa foi a declaração do reitor da Universidade de Brasília (UnB), Ivan Camargo, a respeito do caso da jovem recém-formada em direito Ariadne Wojcik pela instituição, encontrada morta na última quarta-feira (9/11).

No entanto, Camargo não anunciou nenhuma ação contra o advogado, sob alegação que a reitoria está ocupada há 10 dias pelo movimento contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita gastos públicos por 20 anos. Camargo conta que o professor acusado não é efetivo, mas substituto na universidade.

“Eu ainda não tenho as informações. O que há é uma clareza do tamanho dessa tragédia. É um choque, mas, ainda, muito cedo para qualquer tipo de manifestação. Infelizmente estamos em uma situação de ocupação em que não conseguimos fazer nossas ações básicas administrativas. Por isso, temos dificuldade de tomar qualquer atitude para investigar este caso”, informou.

O sentimento, para o reitor, é de perplexidade. “Não estou em condições de fazer qualquer verificação nem entrar em contato com a Faculdade de Direito, mas estamos bastante chocados”, garantiu.

Ele relembrou, ainda, o feminicídio em 10 de março cometido pelo estudante de biologia, Vinícius Neres, contra a universitária Louise Maria da Silva Ribeiro, 20 anos, dentro de um laboratório do curso.

“Claro que é sempre muito prejudicial para a imagem da instituição, mas nossa comunidade é muito grande. Temos muitos professores, servidores e alunos. Tivemos a tragédia no início do ano e a universidade tem feito todas as ações pedagógicas, encontros, palestra e aulas magnas sobre esse assunto. Precisamos discutir esse tema”, destacou.
Comoção

A morte prematura de Ariadne Wojcik, 25 anos, que foi aluna de direito da Universidade de Brasília (UnB), causou comoção nas redes sociais. O post de Pragmatismo Político sobre a morte da jovemteve grande repercussão.

O depoimento que a jovem deixou antes de ser encontrada morta na Chapada dos Guimarães (MT) emocionou várias pessoas, mas a carta publicada por Ariadne foi removida pelo Facebook quando já contava com mais de 50 mil curtidas.

Muito chocados com a morte da ex-aluna, colegas de curso estão em busca de explicações. Nas redes sociais, estudantes dizem que a Ariadne era gentil e querida por todos. Eles tentam compreender o que houve com a jovem e a participação do professor no caso.

No texto de Ariadne, ela afirma que sofreu abuso por parte de Rafael Santos, professor da UnB e procurador. A jovem diz: “Pensei em um 100 números de ‘saídas’, mas fica difícil quando se é vítima de uma mente brilhantemente psicopática e narcisista determinada”.

No fim do post, Ariadne relata que não aguentava mais a situação, diz que “desistiu de tudo” e pede “perdão” à família e aos amigos. “Que na próxima reencarnação eu possa fazer uso de todo o aprendizado que isso me trouxe, mesmo com tanta dor e sofrimento.”
Entenda o caso

A Polícia Civil de Mato Grosso (PCMT) investiga a morte da ex-estudante da UnB, Ariadne Wojci, no mirante da Chapada dos Guimarães, a 65km de Cuiabá (MT).

O corpo da jovem recém formada em direito pela Universidade de Brasília (UnB) foi encontrado na tarde desta quarta-feira (9/11), na região do mirante da Chapada dos Guimarães, próximo a Cuiabá, no Mato Grosso.

Ariadne estava morando na capital matogrossense e iria tomar posse no Tribunal de Justiça do estado nesta quinta-feira (10/11). A advogada acusa um professor da universidade, que também é procurador do Distrito Federal, de assédio. Ele nega.

Na manhã de quarta-feira (9/11), a jovem divulgou no Facebook, em tom de despedida, uma carta de desabafo sobre ter sido assediada no último ano, em seu antigo local de trabalho, em Brasília.

Poucas horas depois de fazer um publicação em sua rede social, relatando os casos de assédio, Ariadne saiu de casa e pegou um táxi, em direção ao mirante da Chapada dos Guimarães, de acordo com os investigadores da Polícia Civil do Mato Grosso, que interrogaram o tio da garota. Na postagem da recém-formada em direito, ela se mostrava indignada e cobrava por justiça.

O Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar do Mato Grosso encontraram a bolsa e o par de sapatos da garota nas pedras do mirante, logo no início das buscas. No entanto, como estava chovendo, só conseguiram retirar o corpo do penhasco às 17h.

com informações de Metrópoles e Correio Braziliense

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