“A Turquia não é um país da América Latina para ter golpe de Estado”


“A Turquia não é um país da América Latina para ter um golpe de Estado [...] lá, governos são depostos da noite para o dia”, diz ex-presidente turco após tentativa de golpe mal sucedido no país. Declaração repercutiu no Brasil

Tentativa de golpe de Estado na Turquia fracassou (divulgação)


O ex-presidente turco, Abdullah Gul, gerou polêmica ao declarar à “CNN” que “a Turquia não é um país da América Latina” para ter um golpe de Estado. No depoimento, Gul se refere a países do continente americano e da África, que “têm governos depostos da noite para o dia”.

“A Turquia não é um país da América Latina … Eu estou me referindo àqueles que tentam derrubar o governo e voltar a seus quartéis”, declarou o ex-presidente em alusão à tentativa de golpe no país, na última sexta-feira.

A declaração repercutiu nas redes sociais brasileiras e de outros países da América do Sul.

“Também pensei que os golpes de Estado eram exclusividade dos países da América Latina, mas com o que se passa na Turquia vejo que vivem isso”, escreveu um venezuelano.

No Brasil, houve também quem associasse a declaração do ex-presidente ao cenário atual do país:

“Ex-presidente turco: ‘não confundam Turquia com um país da América Latina. Ninguém pode tomar o poder do dia para a noite’. Acho que foi uma indireta”, escreveu uma internauta brasileira.,

“Alerto que se na Turquia ocorre um golpe militar, na America Latina os golpes seguem com outra roupagem, como no Brasil. Viram só Michel Temer, José Serra e Paraguai?”, publicou outro.

“Golpe no Brasil foi diferente”

Em discurso na Universidade Federal de São Bernardo do Campo, a presidente afastada Dilma Rousseff voltou a defender seu mandato e fez questão de dizer que o Brasil vive um golpe de Estado, mas diferente do que aconteceu na Turquia.

“A Turquia sofreu um golpe tipicamente militar. É preciso que a gente raciocine sobre as diferenças entre nós e o golpe lá porque um dos maiores argumentos dos golpistas é que nós não vivemos um golpe porque não há armas e não existem tanques nas ruas”, disse Dilma.

“Nós vivemos um outro momento. Aqui no Brasil nós temos uma outra circunstância. Nós temos o golpe parlamentar, que alguns chamam de golpe frio, e outros de golpe institucional. Mas se no golpe militar você tem o machado derrubando a árvore da democracia, no golpe parlamentar você tem as parasitas atacando a árvore. Isso é muito grave”, afirmou a presidente afastada.

Para Dilma, no Brasil o “golpe” visa assegurar “uma pauta que não foi e não será aprovada sem que passe pelo crivo do voto popular”, disse. Ela ainda acrescentou que, diante da crise, o governo tem um conflito distributivo, de definir para onde vai o dinheiro. Segundo Dilma, é uma “temeridade” achar que o dinheiro garantido para a população ou que políticas feitas são intocáveis.

Segundo Dilma, a disputa sobre o dinheiro público se dá em relação à ação do Estado como um processo de garantia de direitos individuais e coletivos como interferência na ordem econômica. Ainda de acordo com ela, por trás do “golpe” no Brasil há uma ambição muito forte pelo parlamentarismo.

Consequências da tentativa de golpe na Turquia

O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, afirmou que 7.543 pessoas foram presas, incluindo 6.038 soldados, por supostas ligações com a tentativa de golpe fracassada de sexta-feira, segundo aReuters. Cerca de 8 mil policiais foram afastados de suas funções em todo o país, incluindo Istambul e Ancara.

Neste domingo (17), o assessor militar do presidente Recep Tayyip Erdogan foi preso como parte das investigações sobre a tentativa de golpe. O coronel Ali Yazici, que era o assessor de Erdogan desde 12 de agosto de 2015, é alvo de um processo judicial. Yazici estava em Ancara quando o golpe ocorreu, de acordo com o canal de notícias CNN-Turk.

No domingo, as autoridades turcas prenderam militares, juízes e procuradores acusados de ter apoiado o golpe de Estado.

Yildirim afirmou ainda possuir documentos que detalham os responsáveis pela tentativa de golpe. Os organizadores possuíam planos detalhados de quem ficaria com cargos ministeriais e quem iria agir como chefe da lei marcial. Ele também disse que investigações estão em andamento e detenções dentro das forças de segurança irão continuar.

General confessa

O antigo chefe da Força Aérea turca Akin Ozturk teria confessado, nesta segunda-feira, ser o mentor da tentativa de golpe de estado na Turquia.

Segundo a agência oficial de notícias Anadolu, o general afirmou que “agiu com a intenção de organizar um golpe de estado”. A BBC também confirmou a informação.

A agência Anadolu revelou ainda imagens do general detido e com sinais de violência.

O que aconteceu?

Erdogan voltava para Istambul depois de passar o feriado em um resort em Marmaris, na costa turca, quando militares lançaram a tentativa de golpe na sexta-feira à noite, fechando uma ponte sobre o Estreito de Bósforo, tentando capturar o principal aeroporto de Istambul e enviando tanques ao Parlamento em Ancara.

Pelo menos dois F-16s assediaram o avião de Erdogan enquanto ele estava no ar e em rota para Istambul. Eles chegaram a apontar suas miras para o avião e para outros dois caças que o protegiam”, disse à agência de notícias Reuters um ex-oficial militar com conhecimento dos eventos. “Porque eles não dispararam é um mistério”, disse ele.

Caso Erdogan, que governa o país de cerca de 80 milhões de pessoas desde 2003, fosse mesmo deposto, o episódio poderia colocar a Turquia em um grande conflito interno e marcar mais uma mudança sísmica no Oriente Médio, cinco anos após os levantes árabes que mergulharam sua vizinha Síria em guerra civil.

Um oficial turco de alto escalão confirmou à Reuters que o jato executivo de Erdogan havia sido seguido desde o aeroporto em Marmaris por dois caças F-16 comandados pelos golpistas, mas que o presidente conseguiu chegar a Istambul com segurança.

Um segundo funcionário do alto escalão militar também disse que o jato presidencial chegou a ficar “em apuros no ar”, mas não deu detalhes.

com agências internacionais

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