AUTORA DO IMPEACHMENT QUESTIONOU ATÉ O PADRE NO BATIZADO DO FILHO

"Indignada", coautora do pedido de impeachment questionou até o padre quando seu filho foi batizado. Janaína Paschoal alimenta profundo rancor pelo PT e revela que nas últimas eleições votou em Marina Silva e Aécio Neves, respectivamente, nos 1º e 2º turnos


Janaina Paschoal é coautora do impeachment (EBC)


Claire Gatinois, Le Monde*

A figura que vem ameaçando derrubar a presidente da República brasileira diz ser uma “simples cidadã”, sem partido nem ambições políticas. Janaína Paschoal, em seu pequeno escritório de advocacia, não parece assustada com sua fama repentina. A coautora do pedido de impeachment lançado em dezembro contra Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, que poderá levar a presidente a deixar o poder, acredita ter somente enviado um “sinal de cidadania”.

Na quinta-feira, 28 de abril, a advogada de 41 anos explicou aos senadores o que seria o “crime de responsabilidade” do qual ela acusa Dilma Rousseff: a “pedalada fiscal”, uma manobra contábil que teria permitido mascarar o tamanho do deficit, para vencer a eleição presidencial de 2014. Seria um pretexto para destituir uma presidente impopular, fragilizada por uma crise econômica histórica? “Foi a confirmação da infração da presidente”, ela respondeu ao “Le Monde”.

Descrita como histérica por seus detratores desde seu exaltado discurso na Universidade de São Paulo em abril, onde ela prometeu “libertar o país do cativeiro de almas e mentes”, a professora de Direito assume: “Disseram que eu estava bêbada, sob o efeito de drogas, compararam-me com um pastor evangélico. E daí? Se eu fosse uma pastora, meu discurso por acaso teria menos peso?”

Ela ergue os braços quando fala de excedente orçamentário, põe a mão no chão quando se trata de deficit, e assume um olhar assustado quando fala em “crime de responsabilidade” de Rousseff. “Uma fraude de grandes proporções”. Ela também denuncia decretos fiscais assinados sem a aprovação do Congresso e a permanência de pessoas suspeitas de corrupção na direção da Petrobras.

Foi ao acompanhar seu ex-professor e orientador de doutorado, Miguel Reale Júnior, em uma conferência organizada para o PSDB, com o qual ela nega ter qualquer afiliação, que Janaína Paschoal diz ter descoberto a extensão da falha presidencial. Ao PSDB ela falou em impeachment, mas o partido não ousou acatar com convicção.

Algumas semanas mais tarde, depois de discursar durante a manifestação organizada em agosto de 2015 contra a presidente, ela levou consigo Hélio Bicudo, um ex-deputado do PT de 93 anos, que se tornou um dos maiores críticos de Lula e do partido. “É uma mulher inteligente, sem interesse pessoal”, elogiou. “Uma patriota.”
Sem silêncio

O pedido foi feito em setembro, e permaneceu na gaveta de Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados. Foi só em dezembro que este último, acusado de fraude e de evasão fiscal, temendo perder seu status de imunidade, abriu o processo de destituição. O nome de Janaína Paschoal veio para os holofotes.

A advogada não se importa que seu processo tenha sido aberto graças a Eduardo Cunha, um homem considerado pouco confiável. “Ele vai cair”, ela diz, reivindicando seu papel de “indignada” da República. “Sempre fui engajada”. Incapaz de se calar, mesmo durante o batismo de seu filho, quando ela questionou o padre sobre “essa história de purgatório”, enquanto seu marido, católico, revirava os olhos. “Ele me conhece, sempre fui assim.”

A professora parece alimentar um profundo rancor pelo PT. “Nunca gostei do discurso do PT. Esse partido não permite o diálogo, não aceita críticas. Ele é autoritário.” Mas e as dezenas de milhões de brasileiros que Luiz Inácio Lula da Silva tirou da pobreza? “Uma ilusão” que aprofundou o deficit, ela desconversa. Em 2014, ela votou em Marina Silva, então no PSB, no primeiro turno das eleições presidenciais, e depois em Aécio Neves (PSDB), no segundo. Hoje nenhum partido parece lhe agradar.

Será que essa “simples cidadã” terá pelo menos parte na responsabilidade pela queda de Dilma Rousseff? No dia 11 de maio, os senadores deverão votar a admissibilidade do pedido de destituição. Em caso de aprovação pela maioria, Dilma Rousseff será afastada do cargo durante seis meses, tempo em que os parlamentares analisarão o caso antes de decidir se a sucessora de Lula deverá ou não deixar a presidência de maneira antecipada. A presidente seria então substituída definitivamente por seu vice-presidente, Michel Temer.

*Matéria originalmente publicada no jornal francês Le Monde

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