DISTÚRBIOS MENTAIS OFERECEM UM GRANDE DESAFIO AO SISTEMA DE SAÚDE E À ECONOMIA DE MUITOS PAÍSES



Todos os anos, cerca de um terço da população adulta da União Europeia é acometida por distúrbios psicológicos

Distúrbios mentais oferecem um grande desafio ao sistema de saúde e à economia de muitos países. Pelas estatísticas, a taxa de mulheres que sofrem com o problema é significativamente maior que a dos homens, 33% contra 22%, respectivamente. Apenas na Alemanha, o número de pessoas diagnosticadas com distúrbios psicológicos cresceu em torno de 50% entre 2000 e 2011, conforme a maior companhia de seguro de saúde do país.

No topo das doenças que atingem pessoas na faixa entre os 18 e os 65 anos está a depressão. Na Europa, mais de 10% de toda a população é diretamente afetada pela enfermidade ou por problemas relacionados a ela, de acordo com a Comissão Europeia. Na Alemanha, a depressão atinge por volta de 4 milhões de pessoas, ou 5% da população. Um terço deste total é de homens.

Só que quando o assunto é detectar e curar distúrbios mentais, a psicologia masculina ainda tem muito trabalho pela frente. Especialistas na área da saúde concordam que a questão de gênero ainda é chave na hora do diagnóstico.

– Isso tem a ver com os estereótipos comportamentais, a noção do papel de homens e mulheres na sociedade. Ainda hoje é mais aceitável para as mulheres dizerem que têm medo do que para os homens – explica Iris Hauth, presidente da Associação Alemã de Psiquiatria e Psicoterapia. Ela também atua como psiquiatra no Hospital Alexianer Sankt Joseph, em Berlim.

– Recentemente, tive um paciente que disse: ‘minha mulher não suporta quando eu choro – conta Hauth. Segundo ela, em muitas esferas da sociedade, os homens ainda não têm liberdade para chorar ou demonstrar fraqueza. “Homens, principalmente em cargos de chefia, pensam que não podem admitir que têm doenças psicológicas”, complementa.

“Tudo sob controle”

Esses fatores levantam dúvidas sobre as estatísticas oficiais. As mulheres até podem ser diagnosticadas com problemas psicológicos mais frequentemente do que os homens, mas isso não necessariamente significa que os homens estejam em condições melhores.

Longe disso, aliás. Homens mentalmente doentes frequentemente dizem que estão bem – diferente das mulheres, que são mais abertas com relação aos próprios problemas. Muitos homens ainda veem distúrbios mentais como um sinal de fraqueza que eles precisam resolver sozinhos.

– É por isso que os homens não se dão ao trabalho de consultar um médico. E se consultam, tendem a reclamar de sintomas físicos, como dor nas costas ou coisas do tipo – diz Hauth.

Assim, muitos homens que desenvolveram problemas de ordem psicológica simplesmente não aparecem nas estatísticas, e menos ainda, claro, recebem tratamento. Hauth explica que há ainda outra razão por que as estatísticas em relação aos homens precisam ser encaradas com olhar crítico.

– A depressão masculina frequentemente tem sintomas diferente da feminina. As mulheres tendem a ficar tristes, letárgicas e isoladas. Os homens, por outro lado, ficam mais irritados, agressivos e tentam abafar a depressão bebendo álcool – explica Hauth.

Em casos assim, muitos médicos podem falhar no diagnóstico da doença e, por isso, não receitar o tratamento que o paciente realmente precisa.

Terapia diferenciada

Estima-se que 804 mil pessoas se suicidaram em todo o mundo em 2012. Em países desenvolvidos, 90% desse número pode ser atribuído a distúrbios mentais. Na Europa, os homens estão até cinco vezes mais propensos a cometer suicídio do que as mulheres, um claro sinal de que os homens precisam admitir seus anseios mais abertamente, enfatiza Hauth.

Para isso, eles precisam de mais apoio para “sair do armário” em termos psicológicos, e Hauth está convencida de que uma campanha pública de prevenção, direcionada contra a estigmatização dos distúrbios mentais masculinos, seria um passo na direção certa.

– Precisamos passar a mensagem de que os homens também podem ficar doentes. E que problemas psicológicos não são sinal de fraqueza – diz. Além disso, a campanha deveria ser acompanhada por uma diversificação das terapias de acordo com o gênero.

– Na psicoterapia, ainda nos falta uma abordagem mais específica para homens e mulheres. Com homens, a questão mais importante é demonstrar emoções, fraquezas, trabalhar o superego. Atualmente, essas abordagens específicas não têm muito destaque na terapia comportamental e na psicoterapia – explica a médica.

De acordo com a Comissão Europeia, a depressão resulta em um custo de pelo menos 1% do PIB dos países-membros. Na Alemanha, o dano à economia é estimado em até 22 bilhões de euros por ano. A Organização Mundial da Saúde prevê que a depressão se tornará a doença mais comum em países industrializados até 2030.

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